Na sua melhor tradição de engajamento político, o Festival de Brasília começou na noite de terça-feira, 20, com um sonoro coro de “Fora, Temer”, que ecoou por vários minutos no Cine Brasília. O protesto deu-se quando Eryk Rocha, diretor do filme de abertura, o documentário Cinema Novo, ligou alguns pontos da história brasileira recente. Eryk, que é filho do cineasta Glauber Rocha, disse que queria homenagear a geração de seu pai, que sofreu um golpe de Estado e teve de enfrentar uma longa ditadura. “Dedico também aos que hoje continuam indignados com o que está acontecendo no Brasil e resistem a esse governo ilegítimo.”

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A fala foi emocionada no palco e o filme correspondeu na tela. Cinema Novo, que ganhou o prêmio L’Oeil d’Or de melhor documentário no Festival de Cannes deste ano, é imersão radical no Brasil em transe dos anos 1960, com os filmes dialogando com as transformações sociais que aconteciam. Da esperança de mudança do começo da década até o trauma do golpe de 1964 e as desilusões que se seguiram, até o acirramento da ditadura com a edição do Ato Institucional nº 5, em dezembro de 1968, tudo está lá, nas imagens, de forma direta ou alegórica.

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Cinema Novo foi sendo feito ao longo de nove anos de trabalho e envolve citação a 130 filmes. Trabalha com trechos de clássicos como Terra em Transe, Os Fuzis, Vidas Secas, Deus e o Diabo na Terra do Sol e de títulos menos conhecidos como Manhã Cinzenta e Os Deuses e os Mortos. O panorama é amplo e inclui obras de diretores não associados ao Cinema Novo. A montagem é orgânica e resgata o vigor de uma época em que se pensava o País com intensidade, erotismo, visão política e amor. Tudo se conectava. E havia muita criatividade e desejo de mudar o cinema e o mundo. No conteúdo e na forma.

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Antes de Cinema Novo, passou o curta sobre as relações de amizade e trabalho entre dois fotógrafos brasileiros, Thomaz Farkas e José Medina. Em Improvável Encontro, o diretor, o também fotógrafo Lauro Escorel, compara, por meio de imagens, os estilos de ambos e as influências recíprocas. Uma linda história de amizade e troca mútua de experiências enriquecedoras.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.