Jorge Mautner vê na faixa Feitiço a síntese poética e ideológica do CD Eu Não Peço Desculpa. “Ao invés de ter feitiço decente que prende a gente, nosso samba tem feitiço indecente que solta a gente”, diz o compositor, observando que este samba “é feito das mil contradições harmonizadas pelo feitiço maior chamado Brasil”.
Ao analisar o disco faixa por faixa, ele pontua diversas exaltações, irônicas ou não, ao Brasil. Urge Dracon, por exemplo, “é uma homenagem aos procuradores da República, em sua heróica missão de purificar a República: acima de qualquer pressão ou injunção partidária, sem medo, como têm feito até agora”.
Um Brasil “antigo e eterno” é evocado na marcha-rancho Voa, Voa Perereca. E a faixa final, Hino do Carnaval Brasileiro, “é a síntese-geral, manifesto total, saudação ecumênico-demográfica, ampla geral e irrestrita das tolerâncias, inclusões, absorções, sincretizações, mistura tropical sagrada e consagrada. De todas as influências, maiorias e minorias, seguindo o grito de Gilberto Freyre: “Mestiço é que é bom!”.
O medo, advindo do atentado de 11 de setembro e todas suas significâncias, surge exorcizado dentro da concepção poética de Eu Não Peço Desculpa. Ora com humor, como em Morre-se Assim. Ora em forma de oração, como em Graça Divina, “hino para o Senhor Deus invisível, da livre opção a cada segundo que faz existir o perdão permanente, o amor infinito, e a ressurreição a cada instante, mesmo para os ateus”.