Constable, The Making of a master, organizada pelo Victoria & Albert Museum, é um exercício cuidadoso e admirável, que vai muito além de uma mera retrospectiva. Constable não é apenas um dos mais queridos artistas dos britânicos – como o museu o apresenta logo na abertura da exposição, na tentativa de angariar-lhe uma forte simpatia. Ele é peça fundamental para a compreensão de como a paisagem, sobretudo rural, mas também urbana, se constitui como uma espécie de elemento definidor da identidade artística inglesa.

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Sua obra é apresentada quase que como um ponto de condensamento, um lugar capaz de ecoar as experiências anteriores e, ao mesmo tempo, transformar esses modelos num estilo próprio e cautelosamente lapidado. Ele não apenas olha atentamente e aprende as lições de mestres britânicos (como Gainsborough, Girtin e o próprio Turner) e estrangeiros (como Da Vinci; Ticiano – autor que, segundo Constable, teria fundado, com A morte de S. Pedro Martir, “todos os estilos de paisagem em cada escola na Europa” -; ou Lorrain) que o antecederam, como parece transformar essa experiência num exercício constante de aperfeiçoamento.

É interessante descobrir, por meio de uma vasta seleção de gravuras, esboços e pinturas de Constable e de dezenas de outros autores, como ele conhecia e estudava profundamente a arte europeia, mesmo sem nunca ter saído de seu país natal. Isso graças aos acervos locais e a uma coleção bastante profícua, sobretudo de gravuras, o que reitera a importância fundamental da reprodução em papel para a disseminação dos modelos artísticos.

A exposição também é rica de exemplos de estudo, de sua intensa e persistente formação pessoal, com repetições, cópias, uso recorrente dos esboços, muitos feitos ao ar livre, em dimensões cada vez maiores. O fato de sua filha ter doado uma grande quantidade de obras do pai à instituição que deu lugar ao V&A Museum e a existência de catálogos descrevendo os pertences leiloados após sua morte foram essenciais para permitir essa reconstituição do que Constable viu e produziu, numa espécie de “retrato” do perfil estético desse homem pacato e persistente, que se dedicou a tornar visível aquilo que lhe era familiar.

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A mostra reúne conjuntos impressionantes, como as várias versões de Hay-Wain, uma de suas obras mais destacadas, apresentada no salão de 1821, ou a surpreendentemente naturalista pintura de tronco de árvore, Study of the Truck of an Elm Tree, tão fidedigna que nos faz pensar num primeiro momento que se trata de uma fotografia, antes da própria invenção da técnica, e que serve de gancho para mostrar a existência de laços entre o artista romântico oitocentista e as gerações que o sucederam, como atesta uma gravura realizada quase um século depois por Lucian Freud a partir daquela imagem e que é usada para encerrar a mostra. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.