Depois de um período no exterior, Taís foi Selminha em Porto dos Milagres. |
Taís Araújo já gravou seu nome na história televisiva do País. Em 1996, aos 17 anos, ela viveu Xica da Silva na extinta Manchete e tornou-se a primeira negra a ser protagonista de novela no Brasil. Agora, a atriz carioca interpreta Preta, personagem principal de Da Cor do Pecado. Desde 1965, a Globo já fez 222 novelas e jamais havia posto uma atriz negra encabeçando um folhetim. “Já estava mais do que na hora disso acontecer”, desabafa Taís.
A atriz tem credenciais de sobra para justificar sua escolha para o papel principal da novela das 19h da Globo. Com apenas 23 anos, Taís tem nove anos intensos de carreira televisiva, está na sétima novela e é famosa entre diretores e colegas pela dedicação. Se não bastasse, é dona de uma beleza inquestionável que a fez ser eleita pela revista americana People, em 2000, uma das 25 atrizes mais bonitas da América Latina. “É um exagero. Foi porque a Telemundo estava exibindo Xica da Silva nos EUA”, ameniza. Taís também mantém a simplicidade dos tempos de estreante. “Encaro o meu trabalho como um ofício qualquer”, justifica.
Taís acredita que Preta será o seu papel de maior visibilidade, mas ainda considera Xica da Silva o mais importante. “Não tenho o menor grilo em ficar marcada como a Xica da Silva”, garante. A atriz espera que a batalhadora e romântica Preta sirva como exemplo para os jovens negros na televisão. “Sofri muito com essa falta de referência quando era pequena”, recorda. De qualquer maneira, a personagem torna realidade o que para muitos atores negros, como a própria Taís, parecia um sonho ainda distante. “Pensei que demoraria mais alguns anos”, confessa. “Fiquei feliz. Estava mais do que na hora e o País está passando por um momento propício, com o Lula no governo, alguns ministros negros…”
Da Cor do Pecado também vai tratar da relação inter-racial da protagonista. “Eu mesma tenho uma relação inter-racial”, conta. “Meu namorado é branco e a gente leva numa boa. E acho legal a novela tratar disso agora, porque por mais que uma parcela da sociedade ache normal, o Brasil é imenso e ainda preconceituoso. A tevê não tem de servir só como entretenimento, mas educar.” A atriz é favor da imposição de uma cota de negros nas produções televisivas. “Pode parecer paternalista, mas se não for por lei, a curto prazo não vai ter jeito”, diz.
Várias atrizes negras serviram de referência para Taís. “A Ruth de Souza fez vários filmes na Vera Cruz e está aí até hoje batalhando”, lembra. “Ela não tem o merecido prestígio e reconhecimento como atriz. Tive a honra de interpretá-la no cinema. A Léa Garcia, a Zezé Motta e a Cléa Simões também foram muito importantes como desbravadoras.” Segundo ela, os atores Mílton Gonçalves e Romeu Evaristo foram as duas pessoas que mais lhe deram apoio. “Mas, em geral, sinto que todas as pessoas estão torcendo”, diz.
A atriz cursa o sétimo período de Jornalismo. Ela trancou a matrícula, mas pretende concluir o curso. “Aqui em casa meu pai tem três faculdades, minha irmã é médica e minha mãe é pedagoga. Ser ator é uma profissão muito instável no Brasil, por isso acho legal ter uma carta na manga”, explica.
Ritmo alucinante
Desde que estreou na telinha, em 1995, Taís Araújo não parou de trabalhar. Quem a levou para a tevê foi o falecido Walter Avancini, que a dirigiu em Tocaia Grande e depois apostou nela para protagonizar Xica da Silva, em 1996, ambas na extinta Manchete. “Devo minha carreira a ele”, emociona-se Taís. Em 1997, Taís estreou na Globo no remake de Anjo Mau, no horário das 18h, e depois participou da novela das 19h Meu Bem-Querer. No fim de 1999, foi morar nos EUA a convite da Telemundo. Para divulgar Xica, visitou países como Chile, Portugal, Angola e República Dominicana. A atriz ainda fez participações especiais, como em Betty, a Feia, novela colombiana já exibida na Rede TV!. “O mercado latino me interessa”, afirma.
Em maio de 2000, a atriz voltou para o Brasil e participou de Uga Uga, de Carlos Lombardi, e no ano seguinte chegou ao desejado horário das 21h com Porto dos Milagres. Ganhou o papel de Selminha da Lua, uma prostituta, e depois viveu a fogosa escrava Dandara em sua primeira minissérie, O Quinto dos Infernos. No entanto, após Xica da Silva, o papel mais importante para Taís é o de Elza Soares no filme Garrincha – Estrela Solitária, previsto para estrear neste ano.