Filha de mãe angolana e pai da Guiné-Bissau. Isabél Zuaa nasceu em Lisboa e lá começou a carreira de atriz e bailarina. Veio para o Brasil, integrou-se ao grupo de Gustavo Ciriaco e agora estoura no cinema como coprotagonista de Joaquim.

continua após a publicidade

Se o filme de Marcelo Gomes é sobre a mudança de paradigma do futuro Tiradentes – como um soldado da Coroa portuguesa virou rebelde -, a Preta de Isabél Zuaa tem importante participação no processo.

continua após a publicidade

Como você chegou ao filme de Marcelo Gomes? Por meio dos produtores europeus?

continua após a publicidade

Na verdade, estava no Brasil já há bastante tempo. Vim como integrante de um intercâmbio cultural e acabei ficando. Soube que precisavam de uma atriz negra que falasse africano. Como falo cabo-verdiano, habilitei-me e deu certo.

Sua personagem, a escrava Preta, desencadeia o processo de conscientização de Joaquim, antes de virar Tiradentes. Como se preparou para o papel?

Integro um movimento chamado Mulheres Negras, que visa justamente despertar nossa autoestima. Preta evolui no quilombo. No início, é um corpo de que os homens podem dispor, mas se afirma nesse universo. Sua recusa (vejam o filme) será decisiva no amadurecimento do alferes Joaquim.

O fato de dançar ajudou você na criação da personagem?

Sem dúvida, porque Preta é muito física, desde o arraial até o quilombo.

Tiradentes é um personagem muito forte no imaginário dos brasileiros, mas Joaquim é desconhecido. A história de amor embutida no filme será uma surpresa para o público. Como a vê?

Marcelo (o diretor Gomes) deixou claro que o filme é a visão dele sobre a mudança de paradigma de Joaquim. Acho lindo que ele esteja resgatando a importância da cultura africana, e da mulher, no processo de libertação do Brasil. E acho linda a história de amor impossível. Me encanta que Joaquim seja tão apaixonado e Preta, tão forte.

Já que é um tema do filme, como mulher, atriz e negra, você conheceu o preconceito?

Muito, e no Brasil principalmente. As pessoas parecem ter dificuldade para aceitar a ideia de uma negra portuguesa. No imaginário delas, a coisa não funciona, embora Portugal tenha colonizado a África. Em Lisboa, havia esse mesmo estranhamento. Não acreditavam que eu fosse de lá.

Mas sempre existem os negros dos filmes de Pedro Costa, não?

Sim, mas ele é um autor para poucos, não um diretor de filmes para massas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.