Uma instigante, desconfortável e provocativa reflexão sobre cultura nacional foi proposta pelo escritor José Teixeira Coelho Neto, na palestra de abertura do Congresso Nacional de Cerâmica, que ocorre em paralelo ao Salão Nacional de Cerâmica, no Cietep.
Teixeira Coelho ? autor, entre outros, do Dicionário Crítico de Política Cultura; ex-diretor do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo; e colaborador da revista Bravo Mais ? usou como gancho da palestra o que chamou de ?semana negra de maio de São Paulo?. ?Tiroteios nos corações nobres da cidade, balas perdidas, pânico generalizado, um toque de recolher ?espontâneo? e um silêncio total e absoluto às oito horas da noite, como se estivéssemos numa mata virgem?.
?Há mais de 50 anos as bases da sociedade sofrem deslocamento da área econômica para se firmar na cultura, que se tornou o pilar aglutinador da sociedade. Temos de montar a complexa equação desse movimento para perceber sua significação cultural e assumir um processo de mecenato em favor do futuro?, propôs. Teixeira Coelho leu um trecho de Macunaíma (1926), de Mário de Andrade, para provar que a situação de medo e descaso na capital paulista perdura há pelo menos 70 anos.
Tratando a cultura como a arte de se levantar o edifício do improvável, mas possível; uma longa conversa; e o diapasão que deveria afinar os diferentes instrumentos da orquestra, o palestrante sugeriu reflexões sobre o que definiu como os seis vetores dos valores culturais: direitos culturais; diversidade cultural ? direito de participar da vida cultura própria e da dos outros ?, participação da sociedade civil nas decisões de estado; a centralidade da cultura ? a cultura discutindo as questões da indústria, comércio, educação, aposentadoria e todas as áreas que dizem respeito à comunidade; a conectividade (o mundo ligado a tudo e a todos e a cultura como forma de conectar todo o mundo); e a inovação dos recursos destinados à cultura ? e nesse último item, Teixeira Coelho referiu-se à destinação majoritária de verba voltada para o patrimônio em detrimento do novo, deixado à própria sorte. ?Esses são os seis elementos que temos de incorporar daqui para a frente?.
Oficinas
A partir das reflexões e provocações de José Teixeira Coelho Neto, o Congresso Nacional de Cerâmica abriu as portas das 26 oficinas e dá continuidade até domingo às palestras e mesas-redondas, que ocorrem no Pavilhão de Exposições Horácio Sabino Coimbra e no Auditório Mário de Mari, ambos no Cietep.
Artista paraibana e premiada na categoria popular-utilitário, a ceramista Terezinha Cavalcanti da Silva Costa (Tê Cavalcanti) já começou a colocar a mão na massa. Ela era uma das alunas da também ceramista e premiada Eliza Maruyama (categoria artística) na demonstração da oficina Odizôosama ? bonecos japoneses da sorte. ?Eu comecei a mexer com argila na infância, como brincadeira. Depois que meus filhos cresceram, recomecei fazendo esculturas femininas. Mas a troca de informações e técnicas, a conversa com tanta gente que trabalha o mesmo material, mais as palestras tornam esse Salão e Congresso num espaço único no País?, reconheceu.
As outras demonstrações da arte cerâmica ficaram por conta, uma da ceramista peruana Maria Antonieta Merida, de Cuzco e filha do renomado escultor ceramista Edilberto Merida Rodrigues. Ela falou sobre a milenar história da cerâmica peruana, suas implicações sociais e artísticas. ?Hoje, o Peru é referência na arte cerâmica e este acúmulo de experiência teve início há mil anos antes de Cristo.? E outra, da Família Silmar Lázaro ? Silmar e as filhas Luana e Keity ?, da Associação dos Artesões de Campo Largo, que moldou o barro em torno elétrico.