Confusão tamanho família

Atualmente, o SBT é a emissora de tevê aberta que mais exibe seriados. Só para citar os americanos, há Smallville, The West Wing, Friends, Plantão Médico… O que mais tem causado burburinho, porém, é um nacional mesmo: o Meu Cunhado. Engavetado desde 2000, quando foram gravados seus 52 episódios, Meu Cunhado alcançou inacreditáveis 21 pontos logo na estréia. Um mês depois, a média de audiência caiu para 14 pontos, índice ainda considerado ótimo para os padrões do SBT. Vale lembrar que Programa do Ratinho e Domingo Legal têm enfrentado dificuldades para chegar na casa dos dois dígitos no Ibope. Não por acaso, Sílvio Santos encomendou logo a Moacyr Franco, responsável pela redação final de Meu Cunhado, um novo programa de humor.

Embora seja reconhecidamente um grande humorista, Moacyr Franco não é o grande trunfo de Meu Cunhado. Há anos, Ronald Golias não tem feito outra coisa da vida se não interpretar Pacífico e Profeta no A Praça É Nossa. Demorou para Sílvio Santos perceber que um de seus mais talentosos contratados estava criando mofo no humorístico de Carlos Alberto de Nóbrega. Não que o personagem de Golias em Meu Cunhado seja um assombro de originalidade. Não é. Ele nada mais fez do que ressuscitar o bom e velho Carlo Bronco Dinossauro da extinta Família Trapo. A exemplo da série cômica exibida pela Record nos anos 60, Bronco continua o cunhado imprestável e mexeriqueiro de sempre, que inferniza a vida de toda a família.

Cópias

Na época, o Bronco fez tanto sucesso que deu origem a outros “bicões”, como o Agostinho, de A Grande Família, ou o Caco Antibes, de Sai de Baixo. Ambos muito bons, mas nenhum que se compare ao original. Por isso mesmo, ao escrever os episódios de Meu Cunhado, Moacyr Franco tem procurado deixar Golias à vontade para fazer o que sabe de melhor: graça. Da mesma geração que outros “clowns” da tevê brasileira, como Chico Anysio e Renato Aragão – ambos igualmente mal-aproveitados na Globo -, Golias é um mestre na arte do improviso. Por isso mesmo, às vezes, ele exagera um pouco. A cena em que Bronco tenta extorquir dinheiro do sobrinho de 10 anos para financiar sua candidatura à presidência do clube era de provocar bocejos.

O texto de Meu Cunhado não é dos piores. Não chega a ter o fino acabamento de um Cláudio Paiva, responsável pela redação final de A Grande Família, da Globo, mas diverte. Algumas piadas são ingênuas, quase pueris. Já outras não resistem à tentação do duplo sentido. O porém é que algumas situações soam datadas. Também pudera. Depois de tanto tempo na gaveta, só agora foi ao ar o episódio que tirava sarro do racionamento de energia elétrica. Numa cena na cozinha da família Cantapedra, Bronco comenta: “Essa noite teve apagão…”. “O que é apagão?”, indaga o caçula. “É falta de luz!”, explica a irmã. “No caso do seu pai, é falta de força mesmo!”, implica Bronco.

Sucesso

Mas o texto não chega a ser o “calcanhar-de-aquiles” da série. A produção de Meu Cunhado é tão precária quanto os anúncios da agência Cantapedra de publicidade, administrada pelo personagem de Moacyr Franco. O cenário, o figurino, tudo, enfim, parece ter sido emprestado de A Praça É Nossa. Moacyr Franco garante que a tendência é melhorar. Segundo ele, o programa só atinge o formato ideal depois do 20.º episódio, quando os atores acertam o tom dos personagens. Quanto a outros aspectos mais técnicos, como cenário, iluminação e direção de arte, Moacyr pretende resolver tudo quando começar a gravar a segunda temporada da série, já no segundo semestre.

O sucesso de Meu Cunhado não é difícil de ser explicado. As comédias de situação, afinal de contas, estão na moda. Só na Globo, há poucas semanas, estrearam duas: A Diarista e Sob Nova Direção. Além disso, o humor ingênuo, convencional e até um tanto previsível de Meu Cunhado possui um público cativo no SBT. Não por acaso, o humorístico A Praça É Nossa já está no ar há 17 longos anos. Palpites à parte, o sucesso de Meu Cunhado só reafirma o talento histriônico de Ronald Golias.

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