Música, literatura, artes plásticas: depois de juntar sobre o palco o compositor Claude Debussy e o poeta Stephane Mallarmé, a série “Música com Texto” volta hoje ao Sesc Santana, em São Paulo, agora para uma visita aos salões franceses frequentados pelo pintor Toulouse Lautrec. “Estamos trabalhando os conceitos da modernidade. No primeiro, um compositor e, agora um pintor”, explica o diretor Cleber Papa. “Queremos mostrar que as barreiras e limites não existem na arte. Do mesmo modo que se fala de Toulouse, dos cabarés, também se transita por Satie, Richepin, Verdi, Puccini”, explica.

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O espetáculo começa com Giuseppe Verdi, compositor italiano de óperas que, após uma temporada em Paris, volta para a Itália e recebe em sua casa seu editor francês, Leon Escudier. “Escudier lhe traz a Medalha da Legião de Honra, oferecida por Napoleão III, e lhe encomenda uma nova ópera baseada na Dama das Camélias, de Dumas Filho, nada mais nada menos La Traviata, que antecipa o ambiente aristocrático dos cabarés e cortesãs, onde viveria Toulouse-Lautrec alguns anos mais tarde”, diz Papa, dando pistas da ideia por trás dos espetáculos da série. “O objetivo é criar um formato que tire a formalidade dos recitais convencionais e permita a compreensão da música de câmara (e, por extensão, da ópera, da música de concerto e assim por diante) por pessoas que não estejam habituadas ao gênero, sem, claro, deixar de atrair os fãs do gênero.”

E por que Lautrec? “Ele transforma e revoluciona o traço. Quer ver as rugas, os pelos, as deformidades, entendendo que ‘a feiura, onde quer que esteja, tem sempre um lado belo’. Tudo isso como parte de uma provocação criativa que invadia a pintura, as artes decorativas, a poesia e a música desse período. Todos eles, inclusive Lautrec, iniciavam a construção do que seria a chamada belle époque. Ele busca inspiração nos bares, cabarés, bordeis, nas dançarinas, nas prostitutas e nos miseráveis. E todos o faziam com um humor ácido. Ria-se de tudo, do dinheiro e da falta dele, embalados pelo absinto, pela música – as czardas, a opereta, as Gymnopédies de Satie.”

Participam da apresentação, que tem direção musical do maestro Luis Gustavo Petri, a soprano Taís Bandeira, o barítono Sebastião Teixeira, o ator Airton Renô, o pianista Miroslav Guiorguiev e os violoncelistas Fábio Pellegatti, Paulo César Rocha. “O espetáculo busca capturar esta atmosfera até certo modo de provocação, irresponsabilidade deliberada, de ruptura, misturando textos falados pelos cantores e pelo ator convidado, com peças executadas pelo conjunto de músicos”, diz Papa, que adianta os possíveis temas das próximas apresentações da série: Liszt e “Na sala com Lorca e De Falla (Os diálogos da resistência)”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Na Sala com Toulouse Lautrec. Sesc Santana (Av. Luiz Dumont Villares, 579). Tel. (011) 2971-8700. Hoje e amanhã, às 21 horas. R$ 2 a R$ 8.