A mesa de encerramento da 15ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty foi uma homenagem a Conceição Evaristo, numa mesa que repassou sua vida e lhe deu oportunidade de falar sobre a relação da literatura com a fé, a afetividade e maternidade, entre outros assuntos.

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“A Joselia (Aguiar, curadora da Flip) teve bastante sensibilidade para nos colocar aqui, mas além do agradecimento não podemos deixar de afirmar que não foi concessão. Esse lugar é nosso por direito”, disse Conceição, que pediu “Joselia 2018”.

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No ano passado, Conceição protagonizou um protesto coletivo contra a ausência de escritores negros na programação principal da Flip. Em 2017, numa Flip que se mostrou preocupada com a diversidade e tentou botar em discussão a questão racial por meio da literatura, Conceição brincou que a “Flip não tem mais jeito, não vamos abrir mão do que foi e do que está”.

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A escritora recuperou personagens negras da literatura brasileira, como Rita Baiana, Bertoleza e Gabriela, e lamentou o fato de elas não serem retratadas como mães. As duas mulheres centrais da tradição judaico-cristã, Eva, que representa a perdição, e Maria, a salvação, também serviram de comparação. “Se vivemos sob esses mitos, e a literatura brasileira não dá conta de criar mulheres negras fecundantes, o corpo delas é sempre colocado no lugar do mal.”

Criada num ambiente católico, Conceição disse que nem toda a força do cristianismo no Brasil apagou a memória coletiva das religiões de matriz africana. “Por medida de segurança, sou devota de Imaculada Conceição”, disse. “Mas toda vez que estou com ela, negocio o espaço de Oxum.”

A escritora reforçou a importância da afetividade para a sobrevivência em sociedade. Quando disse que o homem negro só é igual ao homem branco no machismo, foi aplaudida.

Carolina de Jesus também foi celebrada. “Ela lembra muito Lima Barreto, que sabia que não conseguia extravasar toda sua potencialidade”, disse. Comentando a recepção da obra de Carolina, que tende a realçar o relato, ela questionou: “Por que os críticos conseguem perceber a angústia humana na obra de Clarice Lispector, e não percebem isso em Carolina? Ela é uma grande escritora brasileira.”