Na Escola de Música Rosa Mística,
Osvaldo deu aula para professores
sobre a arte de compor.

Em estada em Curitiba, há duas semanas, o compositor, músico e professor Osvaldo Lacerda e sua esposa, pianista Eudóxia de Barros, concederam entrevista exclusiva, ao O Estado do Paraná. Os músicos vieram para participar de palestra, banca examinadora do XXI Concurso Latino Americano Rosa Mística. Eudóxia deu recital que lotou teatro. Todas estas atividade foram promovidas e patrocinadas pelo Centro de Educação Profissional Rosa Mística.

É imensa a experiência de Osvaldo Lacerda como professor e compositor. Dedicou-se ao estudo da música desde criança, e constatou com o tempo que sua vocação era para compor. É reencarnacionista e acredita que este dom já vem de outras vidas. Da mesma forma como Eudóxia tem facilidade para tocar piano, desde criança. “Já fui músico em outras vidas e fui me aperfeiçoando. Quem não concorda com isso e quer ser compositor “na marra”, não dá certo. E aqueles que têm o dom e não se aperfeiçoam, acabam frustrados”, diz Osvaldo.

Foi aluno de Camargo Guarnieri de quem obteve grandes ensinamentos. Já na primeira aula Guarnieri lhe falou que composição exige técnica. Da mesma forma como o instrumentista, que deixar de tocar um dia, precisará de dois para recuperar, o mesmo acontece com a composição, que depende da inspiração. Quando esta faltar, deve pegar uma melodia, fazer um contraponto com ela a duas vozes. Depois a três e assim por diante, mas não pode parar. É preciso aprimorar a técnica.

Guarnieri regente

Na época em que estudou com Camargo Guarnieri, ele era um dos quatro regentes da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo. Quando ensaiava uma de suas músicas ou de outros compositores, praticamente obrigava Lacerda a assistir aos ensaios, de partitura na mão. Algumas vezes fazia-o sentar-se no meio da orquestra. Os músicos o recebiam muito bem e se entusiasmavam em ver uma pessoa tão interessada. Este foi um dos aspectos do diferente método de ensino de Guarnieri.

Com relação ao solfejo o professor Lacerda diz que é muito difícil colocar solfejo dentro de mentes graníticas, refratárias à música. Assim como quem não tem vocação para medicina ou direito, não terá paciência para ficar 5 ou 6 anos numa faculdade. A mesma coisa acontece com a música. É preciso ter vocação. Um músico precisa saber fazer análise musical, ou seja analisar o que está tocando e ouvindo. Se vai tocar uma sonata tem que saber o que é o primeiro tema, transição, e assim por diante. O professor acredita que 90% dos intérpretes não têm esta formação. E isto não acontece só no Brasil. Nos Estados Unidos é a mesma coisa.

Sertaneja

Osvaldo Lacerda define esta música que a mídia “impõe” como sertaneja, de “música paraguaia cantada, em português, com ênfase mexicano. Está mais longe do que a nossa autêntica música sertaneja está para o planeta Saturno. É uma farsa.

Sobre a pianista Eudóxia de Barros, sua esposa, confessa ter inveja de sua energia, sempre pronta para tudo: estudar, viajar se preciso. Admira sua honestidade artística de tocar o que realmente está escrito na partitura. Respeita a obra do compositor.

Alguns intérpretes algumas vezes perguntam a Lacerda: “Como o senhor quer que toque esta música? ( no caso a de Lacerda, compositor). Para o mestre esta é o tipo de pergunta cretina. “Toque o que está escrito”, diz ele.

Alguns instrumentistas tocam a nota certa, ritmo certo, mas não respeitam os sinais de dinâmica, o que é forte ou piano. Não respeitam o andamento, que é a pedra básica de uma boa execução. Se está escrito que a semínima é igual a 120 e o músico toca 100, ele está tocando outra música, não a sua ou de outro compositor.

Eudóxia de Barros concorda com o mestre Lacerda e afirma que andamento é muito importante, mas por outro lado muito difícil.

Alegrias e decepções

A rotina da pianista Eudóxia de Barros é cuidar da correspondências, o que lhe toma muito tempo, principalmente quando é e-mail, estudar, preparar os recitais. Afirma que o computador ajuda muito, mas por outro lado toma muito tempo. É processo moroso. No primeiro semestre prepara o programa para os recitais que começam a acontecer no segundo semestre. Costuma selecionar o clássico, romântico, moderno e brasileiro. Para a música brasileira sempre dedica um espaço maior. Quando foi aluna de Camargo Guarnieri, recebeu orientação para não ultrapassar o tempo de uma hora ou uma hora e meia e com intervalo de dez minutos. Mais do que isso o público se cansa e o aproveitamento cai. Para Guarnieri a platéia tem que sair sempre querendo mais. Mas quando uma sonata, geralmente tocada no início, é mais longa, é difícil elaborar um programa para tão pouco tempo. Por isso a pianista não faz mais intervalo, pois tem o hábito de explicar a música que vai tocar e isto toma um pouco mais de tempo.

O que a deprime é a falta de valorização do artista brasileiro. Ele depende da situação política do momento. Se o governo é simpatizante da cultura, a situação é favorável. No mínimo ele sabe o que é um recital de piano. Os que não têm esta mesma visão, acham que isto é cultura de elite.

Sociedade de concerto

Com pesar, conta que em São Paulo foi formada a “sociedade de concerto”, que contrata artistas estrangeiros para se apresentar. O público é formado por pessoas de grandes posses financeiras, de elite. E a minoria é de músicos, pois o preço do ingresso é muito caro e músico não tem todo este dinheiro.

Os artistas convidados são sempre estrangeiros, não há preferência pelo brasileiro, mesmo sendo bom, mas que resida no Brasil.

Atualmente, a política da Prefeitura de São Paulo também não é favorável à música erudita. O que prevalece é apoio ao rock e à sertaneja que está por aí.

Eudóxia conta que sempre fechava o ano com um recital no Teatro Municipal de São Paulo, era o “feche” do ano. Mas como a prefeita Marta Suplicy não é simpatizante do erudito este concerto foi cortado.

Por outro lado, ao se apresentar em lugares mais distantes, cidades do interior, no Norte e Nordeste do Brasil, percebe que sempre há público interessado na sua música. As pessoas aplaudem e pedem bis. O que há é um menosprezo com o nível cultural do povo brasileiro, que tem muita sensibilidade.

Este ano Eudóxia de Barros esteve em Francisco Beltrão, onde inaugurou o piano do Teatro do Centro de Cultura da cidade. Deverá se apresentar ainda em Pato Branco e Londrina. Do que não abre mão, para felicidade de seu público é a execução da Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro, de Gottschalk, no final do espetáculo.

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