Como os professores são retratados na teledramaturgia brasileira

Os professores costumam ser, depois dos pais, os primeiros “heróis” de toda criança. E são poucos os adultos que não guardam a lembrança de algum mestre da infância ou adolescência. Justamente por isso, giz e quadro negro são elementos que nunca passam muito tempo longe das novelas. Às voltas com eles, há professores de todos os estilos: responsáveis, carinhosos, surtados, divertidos, apaixonantes e apaixonados. Alguns acabam conquistando tanto espaço no imaginário do público que, ao lado dos mestres reais, até merecem ser homenageados no próximo dia 15, sexta-feira, o Dia do Professor.

Como a professorinha Clotilde, de Maitê Proença, que despertou o amor do analfabeto Sassá Mutema, vivido por Lima Duarte em O Salvador da Pátria, ou a meiga professora Lu, de Leila Lopes, em Renascer. No mesmo estilo, mais “convencional”, se enquadra Mariquinha, vivida por Carolina Kasting no “remake” de Cabocla. “É uma tarefa gloriosa. Como não tem o poder nas mãos, ela pode até mudar a mentalidade de uma criança, mas não a realidade em que ela vive”, destaca Carolina.

Autor de Malhação, onde os professores são figurinhas fáceis, Ricardo Hofstetter destaca a riqueza dramatúrgica deste tipo de personagem. “Eles têm a função de ensinar coisas certas. Mas são seres humanos e também erram. Isso cria uma dicotomia muito interessante”, justifica Ricardo. Que o diga Santana, a professora alcoólatra vivida por Vera Holtz em Mulheres Apaixonadas. Depois de cada porre, ela mal sabia como encarar os alunos. “O Manoel Carlos escolheu esta profissão exatamente para aumentar o conflito. Isso ajudou a deixar claro que ela tinha uma doença”, ressalta Vera.

Mas a alcoolizada Santana não estava sozinha na trama de Maneco. Outra que enfrentou uma dúvida daquelas foi Raquel, vivida por Helena Ranaldi, que se apaixonava pelo aluno Fred, interpretado por Pedro Furtado. “É uma história complicada, porque não diz respeito só aos dois. Inevitavelmente, a escola acaba envolvida”, raciocinava Helena, à época da composição da personagem. Ana Paula, professora de História interpretada por Carla Regina numa das temporadas de Malhação, também viveu um conflito com relação ao exemplo que precisava dar aos alunos ao tentar abandonar o vício do cigarro. Para Carla, este era o aspecto mais interessante da personagem. Ela confessa, no entanto, que não era o preferido do público. “Ela era a típica professora gostosona. Os adolescentes que vinham falar comigo sempre diziam: ‘Ah, queria ter uma professora dessas!'”, conta, às gargalhadas.

Boazinhas

As professoras que costumam marcar mais a memória do público, no entanto, são mesmo as boazinhas. Leila Lopes até hoje é reconhecida nas ruas por conta de sua Lu, de Renascer, exibida em 1993. “Acho que serei a eterna professorinha”, vangloria-se a atriz, que não vê problemas em ter a imagem ligada a uma personagem de mais de 10 anos. “Acho maravilhoso ser chamada pelo nome da personagem. Significa que cumpri minha função”, acredita. Já Flávia Monteiro diz ter ficado no passado a associação de seu nome à doce Carol, que não era professora, mas diretora do orfanato de Chiquititas. “As pessoas lembram, comentam, mas é uma coisa que ficou lá atrás”, sentencia a atriz, que destaca o tom professoral da personagem. “Como ela tinha de educar as crianças, acabava sendo meio professora, como qualquer mãe”, compara.

Experiência prévia

Há atores que já saem na frente se por acaso se deparam com personagens que são professores. Isso porque eles também já estiveram no comando das salas de aula. Vera Holtz, por exemplo, é formada em Artes Plásticas e deu aulas durante três anos para turmas do nível médio. “Tenho muito carinho pelo magistério. Na verdade, foi minha primeira opção. Só depois pensei em ser atriz”, ressalva Vera, que vê no público uma predisposição especial para acolher os personagens professores. “Todo mundo foi aluno um dia. Há um tipo de código que vem à tona com estes personagens”, acredita. Carolina Kasting também já exerceu a mesma função de sua personagem. Logo depois de se formar atriz, ela deu aulas de preparação corporal para atores. “Era muito engraçado, tinha praticamente a idade dos meus alunos. Daria uma nota bem baixa para mim como professora, pois não tinha muita experiência”, ressalta, modesta.

Werner Schünemann, que já foi professor de História, ainda não teve a oportunidade de repetir o trabalho na ficção, mas garante sempre utilizar sua experiência no estudo dos textos. “Tudo que eu tive como metodologia, como teoria da História, me ajuda muito na minha profissão”, assegura.

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