Durante discurso de abertura da Mix06, conferência promovida no mês passado pela Microsoft para discutir o futuro da internet, Bill Gates brincava com a platéia: "Vamos à web, a um desses sites de vídeos ver o que tem lá. Eles têm que ter algo que tire sarro de mim!" Sem pestanejar, o presidente da Microsoft acessou o YouTube.com, maior repositório de vídeos gratuitos da web, digitou seu nome no campo de busca e, bingo, o resultado foi instantâneo: Bill Gates Celebrity Death Match (paródia de um programa da TV americana), Bill Gates Gets Mad (Bill Gates enlouquece), Bill Gates Runs Like a Girl, Pamela Anderson (Bill Gates corre como uma garota, Pamela Anderson)…
O vídeo que mostra Gates realizando a tal brincadeira foi disponibilizado no próprio YouTube, às 11h34 de segunda-feira, antes mesmo que a palestra inaugural dele acabasse. Em menos de uma semana, a cena foi assistida quase 90 mil vezes pelos usuários do serviço. O caso de Gates é um bom exemplo do formato "viral" com que os vídeos colocados no YouTube – e em outros serviços do tipo, como o Google Video e Vimeo (leia abaixo) – são transmitidos e popularizados.
Começa que qualquer um pode fazer o upload de um vídeo. Basta ter o arquivo no formato digital e seguir os passos indicados por cada serviço. Como no Orkut, o usuário se cadastra e cria um perfil no qual irá hospedar os seus vídeos, adicionar amigos, indicar favoritos, etc. Graças ao boca-a-boca e a um empurrãozinho inicial do serviço, que estampa em sua home page os vídeos mais recentes e também os mais assistidos, todo usuário pode um dia ter os seus cinco minutos – ou bem mais – de fama.
"Algo simples como um garoto entediado na escola dançando break com os dedos teve 3.000 acessos. Tanto quanto o clipe de um programa da MTV", afirma Julie Supan, diretora de Marketing do YouTube. "No final, o que importa é que nossos usuários são pessoas apaixonadas em assistir e compartilhar vídeos. Desde que sejam criativos e divertidos."
Foi, assim, quase por acidente, que o norte-americano David Lehre, 21 anos, ganhou notoriedade na rede. Obstinado em se tornar um cineasta desde que o excluíram de uma peça de teatro da escola – "Fiquei arrasado" -, o garoto costumava juntar meia dúzia de colegas em casa e, com uma câmera comprada no eBay e um software de edição em seu computador, começou a produzir seus próprios filminhos. Um deles, batizado de MySpace – The Movie, numa sátira ao popular site de relacionamentos, acabou indo parar no YouTube sem que Lehre movesse uma palha.
Postado em janeiro deste ano por alguém que se identificava apenas como eggtea, o vídeo de 11 minutos tornou-se um hit imediato no site. Já foi visto mais de 4,6 milhões de vezes e, até hoje, está entre os cinco mais assistidos do YouTube.
"A internet é ótima para filmes e cineastas. Quando comecei, ficava feliz se mais de 100 pessoas vissem um filme meu " E o fato é que não foram só as pessoas físicas mas também as jurídicas que se admiraram com MySpace – The Movie.
"Há um perfil meu enorme no (jornal) Los Angeles Times. Recebi ofertas de contrato da MTV e da Current TV. A Comedy Central e outras redes estão interessadas em trabalhar num projeto. Portanto, nos próximos dias vou viajar bastante e encontrar a melhor maneira de emplacar o meu primeiro projeto num estúdio grande!", escreveu por e-mail Lehre, prestes a embarcar para a Califórnia. Ah, e quer saber mais? O herói do YouTube já assina também a própria grife de roupas.
Quero ser grande
"Vai haver muitas histórias de sucesso. O YouTube está se transformando em uma espécie de palco para que as pessoas possam ser encontradas", afirma Julie Supan. Pois uma dessas histórias é a do próprio YouTube. Conta ela que Chad Hurley e Steve Chen, ex-funcionários do site de pagamentos online PayPal, tiveram a idéia de criar o novo serviço depois de participarem de um jantar entre amigos. Fizeram vídeos com suas câmeras de foto digital e, no dia seguinte, quando tentaram mandar o vídeo por e-mail, não conseguiram. Os arquivos eram grandes demais para mandar por e-mail. "Foi aí que eles perceberam que havia sites de compartilhamento de fotos, mas não de vídeos. Em fevereiro (de 2005), criaram a companhia", explica.
A primeira versão do serviço, projetado na garagem da casa de Hurley, entrou no ar em maio, com verba própria. Em agosto, 30 mil vídeos eram assistidos por dia. Mas, no mês seguinte, algo mudou: o número de vídeos acessados em um único dia bateu a casa de 1 milhão. O barulho repentino chamou a atenção dos investidores da Sequoia Capital – empresa conhecida por ter apostado suas fichas em então ilustres desconhecidos como Google, Yahoo, PayPal… -, que pingou US$ 3,5 milhões na conta de Hurley e Chen. (Re)nascia então, em dezembro, e desta vez pra valer, o YouTube.com.
Desde então, o crescimento tem sido vertiginoso. Dos 3 milhões de vídeos vistos por dia, em dezembro de 2005, o YouTube passou a exibir 30 milhões diários na semana passada.
Mas, com a audiência massiva, o serviço já enfileira também seus primeiros desafetos. Em episódios recentes, as redes de TV CBS e NBC exigiram do YouTube que removesse do site vídeos que continham trechos de sua programação."Não vimos isso se tornar um grande problema ainda. Se formos procurados pelos detentores dos direitos autorais, iremos cooperar. Mas, para cada carta de notificação, estamos recebendo três ligações buscando uma parceria", aponta a diretora de Marketing do YouTube. Entre esses aliados já podem ser contabilizados MTV, Nike, gravadoras como Matador Records e Warner, e distribuidoras de cinema como Dimension Films e Atom Films.