Com 12 filmes espalhados pelas diversas seções do 67.º festival, o Brasil tem estado diariamente no noticiário da Berlinale. Os diretores aproveitam a vitrine. João Moreira Salles, ao debater No Intenso Agora com o jornal “O Estado de S. Paulo”, manifestou sua preocupação, em face da situação do Brasil e do mundo, pelo que teme que venha a ser “a solução autoritária” em 2018, ou antes. Davi Pretto, ao mostrar O Rifle no Fórum, leu um documento de protesto, manifestando apreensão pelos rumos da cultura no governo de Michel Temer.

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Nesse quadro de apreensão e protesto, Laís Bodanzky e Maria Ribeiro de maneira alguma contemporizaram, mas colocaram a ênfase na questão da mulher. “Tomamos consciência da nossa voz, da nossa força e estamos ocupando espaço”, disse a diretora Laís Bodanzky de Como Nossos Pais, que estreou na Berlinale no sábado, 11, dentro da mostra Panorama. “Acho importante retratar o cotidiano da mulher e nesse filme eu faço isso.

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O ponto de vista de uma mulher sobre outra mulher.” E a atriz Maria Ribeiro – “Ela (Laís) disse que me escolheu porque gosta de me ver polemizar no (programa de TV) Saia Justa.” Como Nossos Pais aborda conflitos familiares. Abre-se num almoço. Maria briga com o marido – Paulo Vilhena faz um antropólogo -, porque ele está sempre ausente, mais preocupado em salvar os índios da Amazônia do que o próprio casamento.

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Só isso já seria motivo de drama, mas a mãe ainda faz uma revelação que simplesmente desmonta a filha. “Avisei a Laís que ia adorar trabalhar com ela, mas deixei claro que não sou uma atriz fácil. Tenho essa mania de querer dirigir junto. Discuto a cena, quero fazer do meu jeito”, explicou Maria. E Laís – “Eu aceito as propostas dos atores e dos técnicos, desde que não entrem em conflito com o que quero.” O cinema é uma arte colaborativa? “Sem dúvida, mas se não funciona como espero eu também digo que ator é ator e agora vai fazer como eu quero. Quase sempre se chega a um consenso, mas o filme tem de ter uma visão, e é a do diretor”, contou ainda.

Por que o discurso feminista? “Porque são séculos de dominação pelo homem e hoje a mulher tem mais consciência do que quer, do que pode. Ainda são poucas mulheres dirigindo, mas há um avanço. E não é uma coisa de agora. A mãe foi uma jovem libertária que veio da geração 68. Acho que é o mais bonito no filme. Mãe e filha têm suas tensões, mas existe afeto”, lembrou Laís. E a revelação? Olha o spoiler – é melhor aguardar o lançamento para ver. “Você vai achar que eu exagero, mas conheço um monte de casos em que aquilo aconteceu de verdade, naquela geração. Não é um recurso ficcional para ampliar a crise da personagem da Maria”, afirmou a diretora.

Como grande atriz, Maria expressa na tela o desejo feminino e as pressões da maternidade. “Acho que o mais difícil foi fazer a mãe de duas meninas. Sou mãe de meninos, sei tudo sobre futebol. Tive de me preparar para entender esse universo feminino mirim, mas agora estou preparada.” Por falar nisso, onde está o marido que não a acompanha nesse verdadeiro triunfo berlinense? (Como Nossos Pais está sendo muito bem falado no âmbito do festival.) “O Caio (Blat, marido de Maria) está em Londres, fazendo uma série. Não é chique?”

Atriz, diretora, escritora. Maria Ribeiro lança na sequência outro livro, o segundo, após Trinta e Oito e Meio. Ela se expõe, como nas crônicas. Como ser mulher no mundo atual? Uma coisa meio autoajuda, o repórter provoca? “Tá me zoando?” Mas não tem saia-justa. Maria sabe que a admiração é incondicional. E quanto aos protestos de brasileiros… Berlim virou vitrine contra Donald Trump. O ator Stanley Tucci, que dirige Final Portrait, sobre o pintor Alberto Giacometti, disse que o Bureau Federal das Artes está na mira do presidente.” Se for extinto, será um desastre, atrelando a produção cultural ao consumismo do mercado. São tantas críticas que a jurada Maggie Gyllenhaal disse que anda sentindo vergonha de ser norte-americana.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.