Durante um ano e meio, as atrizes Alessandra Maestrini e Mirna Rubim ouviram histórias emocionantes – eram espectadores que, encantados com a trama de O Som e a Sílaba, musical estrelado por elas, contaram fatos relacionados à trama. E a rotina deve prosseguir a partir desta sexta-feira, 18, quando o espetáculo escrito e dirigido por Miguel Falabella retorna a São Paulo, agora no Teatro Opus, no Shopping Villa-Lobos.

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“Foram depoimentos comovidos, especialmente de pessoas com familiares que vivem situações semelhantes”, conta Alessandra, referindo-se à síndrome de Asperger, que torna a pessoa sensível a determinados assuntos de seu interesse, ao mesmo tempo que permite a ela desenvolver habilidades incomuns, como afiada memorização e um cuidado extremado com o canto.

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É esse o ponto de partida dessa comédia musical: a peça trata da relação entre Sarah Leighton (Alessandra) e Leonor Delise (Mirna), duas mulheres de comportamentos distintos. A primeira é jovem e com dificuldades em se enquadrar na sociedade, mas se revela uma jovem única, por conta do diagnóstico da síndrome – na verdade, Sarah é uma Savant: possui um autismo altamente funcional que, por um lado, lhe permite habilidades em algumas áreas, entre elas números e música; e que, por outro, faz com que ela se comunique com o mundo de uma maneira inusitada, gerando situações hilárias. Já Leonor é professora de canto que foi uma diva internacional da ópera durante 50 anos. Hoje, parece ser uma mulher, além de elegante, bem resolvida – mas só na aparência.

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“A música vai unir essas duas mulheres e esse encontro mudará a vida de ambas”, comentou Mirna quando da estreia do espetáculo, em 2017. “Leonor já percebe sinais de que sua carreira está decaindo e quer fechar. Sarah, por outro lado, quer mostrar seu talento para todos.” A partir do encontro dessas duas mulheres com necessidades distantes, mas complementares que nasce uma bela amizade.

O Som e a Sílaba surgiu do desejo de Miguel Falabella de escrever um musical especialmente para Alessandra Maestrini explorar toda a extensão de suas habilidades vocais e de interpretação. Soprano absoluta, capaz de exibir uma tessitura vocal que atinge quatro oitavas, ela necessitava de um personagem suave, mas complexo. Nasceu, assim, Sarah, cuja natureza múltipla foi inspirada em versos da poeta americana Emily Dickinson (1830-1886), especificamente esses: “A mente pesa tanto quanto Deus. / Se a pesagem é feita com instrumento bom, / A diferença, se houver, / É da sílaba para o som”. “Especialmente esse último verso me fez pensar em pessoas com habilidades específicas que, por causa disso, vivem à margem da sociedade”, contou Falabella.

As reações do público, apesar de emocionadas, revelam surpresa. “As pessoas sabiam que é uma peça leve, engraçada”, conta Alessandra que, como também é produtora, comandou uma ligeira modificação na forma de divulgação a partir de uma pesquisa qualitativa. “Adotamos as palavras que mais ouvimos das pessoas como ‘transformadora’.”

Só o aviso de que as atrizes cantam ao vivo foi mantido, pois Alessandra e Mirna são um assombro com suas interpretações de árias líricas como Vissi d’Arte e O Mio Babbino Caro, ambas de Giacomo Puccini.

O SOM E A SÍLABA

Teatro Opus. Av. das Nações Unidas, 4.777 – 4º piso (Shopping Villa-Lobos). 6ª e sáb., 21h. Dom., 19h. R$ 50/R$ 120. Até 24/2

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.