Quando conversou com o jornal “O Estado de S. Paulo”, pelo telefone, Daniel Rezende confessou que estava radiante, mas admitiu que havia dado uma desligada no começo da semana. “Estava muito ansioso.” As boas notícias vieram em dupla, ou acumuladas. Na quinta-feira, 14, uma comissão da Ancine, Agência Nacional de Cinema, escolheu seu longa Bingo – O Rei das Manhãs como candidato do Brasil para concorrer a uma vaga no Goya, o Oscar espanhol. Na sexta, 15, outra comissão – da Academia Brasileira de Cinema, num acordo de cooperação com o MinC – escolheu o filme do palhaço como representante do Brasil no Oscar, o de Hollywood.

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A Academia realiza sua 90.ª festa de premiação em 4 de março. No final de janeiro, divulga a lista de indicados. A categoria de filme estrangeiro é a única que é preanunciada antes. Primeiro, no começo de janeiro de 2018, uma long list. Depois, com os demais indicados, a short list, a dos que vão para a festa. Feliz como estava – “Radiante!”, segundo as próprias palavras -, Daniel Rezende sabe que agora terá muito trabalho pela frente. “É como começar de novo. Ninguém chega ao Oscar sem ralar. É o que vamos fazer.”

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O plural engloba a produtora dos Gullane, a distribuidora Warner. Rezende conversou com o repórter pouco mais de uma hora depois do anúncio feito pela comissão. Ainda estava emocionado. “Vamos ter de nos reunir para avaliar isso e traçar estratégias. É possível que, no começo da semana, a gente tenha alguma novidade nessa área.” Por enquanto, é comemorar. “O Bingo nasceu do desejo de fazer um filme baseado na cultura pop, que não é muito visitada pelo nosso cinema. Com um personagem assim forte, a ideia que nos mobilizou foi fazer um filme denso, emocionante, aprofundando essa figura. Quando me debrucei sobre o Bozo, descobri que teríamos de ficcionalizar e criamos o Bingo. O filme é inspirado na história do Arlindo Barreto, que fez o Bozo na TV, mas não é a história dele, por isso o personagem virou o Augusto. O Arlindo virou pastor evangélico, mas eu não via essa como uma história de redenção. Para mim, é a história de um sujeito que vive para o palco, tem altos e baixos na vida e termina encontrando no culto evangélico o seu holofote. Não é nem essa questão de ser 171, ou não. É sujeito que precisa de um palco.”

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E Rezende – que já foi indicado para o Oscar de montagem por Cidade de Deus, de Fernando Meirelles – tinha essa ambição de fazer um filme bem feito, um filme do qual tivesse orgulho e orgulhasse o público. Mas ele sabia que não seria fácil. “Sabia que esse final poderia desconcertar muita gente e até provocar polêmica, nesse momento de retrocesso que vivemos. O que nunca deixei de confiar foi no boca a boca. Quem vê o filme me dá um retorno muito bom, mesmo que eventualmente não goste muito.” Tivemos números que não foram muito bons, espero que a indicação renove o interesse por Bingo.”

Lançado em 395 salas, Bingo foi perdendo espaço e chegou à quarta semana num número mais reduzido de salas, contabilizando – no fim de semana passado – 190 mil espectadores. É possível que o número de salas aumente, mas a decisão será tomada só na próxima semana. Nos últimos anos, as comissões que se reuniam para indicar o candidato do Brasil a uma vaga no Oscar tentavam criar a fantasia de uma escolha por unanimidade. Este ano, houve consenso, não unanimidade na escolha de Bingo. O atraso de uma hora da coletiva realizada na sede da Cinemateca Brasileira já indicava que a discussão da comissão devia estar animada. O roteirista Doc Comparato, que integrava o grupo, justificou a escolha em três pontos – “Expressão, realização, compreensão. Queríamos um filme que expressasse o Brasil, que fosse muito bem realizado e que pudesse ser entendido até no Japão. Bingo atendeu a todos os requisitos.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.