Fernando Meirelles não acreditava mais no Oscar. Afinal, o filme era de 2002 e o lobby foi fraco no ano passado. Este ano, com a Miramax utilizando suas armas pesadas, Cidade de Deus vai a Hollywood. Diretores brasileiros costumam esnobar o Oscar, porque a “inteligentsia” nacional gosta da Europa e sua arte. Americanos só produzem enlatados.
Na hora do Oscar, tudo isso é conversa fiada. Meirelles, com seu Cidade de Deus, largou o que fazia – pré-produção de um filme – e partiu para Los Angeles assim que soube de sua indicação para o troféu.
Ontem ele participou do famoso almoço das estrelas em Beverly Hills e, melhor ainda, estava presente, na foto oficial dos diretores indicados, para preencher o ego e marcar história no cinema brasileiro, como qualquer mortal gostaria de fazer.
O almoço foi promovido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, no Beverly Hills Hilton (Califórnia), e reuniu os indicados que decidiram ir ao prêmio máximo do cinema norte-americano.
Esse encontro é o primeiro da festa “Oscariana” que ainda contará com noites de autógrafos, coquetéis, reuniões com a mídia e, enfim a premiação da noite de 29 de fevereiro. Acrescente também a festa de embalo que acontece depois da cerimônia. Essa é para poucos mas as histórias são para o resto da vida.
Nesse concorrido almoço apareceram os atores Charlize Theron, Ben Kingsley, Sean Penn, Diane Keaton, Patricia Clarkson, Alec Baldwin e Benicio Del Toro.
Meirelles, cujo longa “Cidade de Deus” recebeu quatro indicações para o Oscar –incluindo Melhor Diretor–, posou para fotos ao lado de seus adversários na disputa pela estatueta, nomes de peso como Peter Jackson (“O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei”), Sofia Coppola (“Encontros e Desencontros”), Clint Eastwood (“Sobre Meninos e Lobos”) e Peter Weir (“Mestre dos Mares – O Lado Mais Distante do Mundo”).
Harry Potter IV, o filme mais caro de todos
Se o terceiro Senhor dos Anéis promete vencer a maioria dos Oscars este ano, o quarto episódio da saga de Harry Potter, “Harry Potter e o cálice de fogo” (“The goblet of fire”), vai gastar muito na produção deste ano para vencer em 2005. O filme que começa a ser rodado em abril, baseado na obra da escritora britânica J.K. Rowling, será a produção cinematográfica mais cara de todos os tempos, anunciou ontem em Londres o diretor Mike Newell.
Segundo o cineasta inglês de 61 anos, que dirigiu produções bem-sucedidas como “Quatro casamentos e um funeral” e “Mona Lisa”, esse episódio do mago Harry Potter, custará cerca de 168 milhões de libras esterlinas -US$ 303 milhões) ou 900 milhões de reais.Esse novo capítulo protagonizado por Potter custará 3 milhões de libras esterlinas (cerca de US$ 5 milhões) a mais que “O retorno do rei”, a terceira parte de “O senhor dos anéis”, dirigido por Peter Jackson.
“Harry Potter IV é um projeto colossal nunca visto antes. Há tanto dinheiro envolvido na produção do filme que já superou todos os recordes históricos”, afirmou Newell à imprensa britânica. “O filme não é como qualquer outro, pois é um evento mundial, mais que uma simples produção cinematográfica. Tenho a responsabilidade de não decepcionar milhões de crianças com esse trabalho. Filmar Harry Potter é como ser presidente do Brasil, é colossal”, brincou o diretor.
A quarta parte da saga de Potter narra a história do jovem mago inglês, interpretado pelo ator Daniel Radcliffe, que decide entrar em uma difícil competição entre escolas de magos.
A primeira versão cinematográfica de Harry Potter foi “A pedra filosofal” (2001), cujo custo atingiu US$ 130 milhões, seguida por “A câmara secreta” (2002), na qual se investiram US$ 100 milhões. Ambas foram dirigidas pelo diretor americano Chris Columbus.
‘Contra Todos’ fala de religião e violência
Berlim
– O filme “Contra Todos”, de Roberto Moreira, que a apresentadora da seção Panorama, tentando falar português, chamou de Moriera, teve casa cheia na noite de segunda-feira (09). Não foi pouca coisa. Projetado às 23h, após a exibição, houve debate com o público. A platéia ficou até o fim e, embora muitos espectadores, por causa do horário e do frio, tenham abandonado o debate, os que ficaram discutiram “Contra Todos” com o máximo interesse.Aos 42 anos, com diversos curtas e a co-autoria do roteiro de “Céu de Estrelas”, de Tata Amaral, no currículo, Moreira estréia no longa com um filme que fala de religião e violência na periferia de São Paulo. “O Brasil é um país violento”, ele diz, ao citar o recente assassinato de fiscais do Ministério do Trabalho que investigavam denúncias de trabalho escravo em Unaí, Minas Gerais. “Sempre me impressionou muito o fato de que você pode pagar 2 mil e poucos reais pela vida de uma pessoa. E me interessa mais ainda discutir a violência no seio da família.”
“Contra Todos” está sendo comparado aqui a um filme do Dogma – que opõe-se ao conceito de autor, de cinema individual, efeitos especiais, entre outros. Foi feito com poucos recursos – originalmente, ganhou um concurso de telefilmes -, gravado em vídeo e passado para filme (no processo que se chama de transfer). Moreira quis fazer um filme na contracorrente da tendência chamada de cosmética da fome. Talvez tenha exagerado na dose. A imagem do filme nega o esteticismo, legal, mas não precisava ser tão desleixada. Ele se defende: “Vimos o filme em São Paulo e o visual estava OK. A tela na qual foi exibido aqui é muito ampla e estoura a imagem, prejudicando a qualidade. No Brasil, você vai ver que não é assim.”
O diretor leciona dramaturgia de roteiro na Escola de Comunicação e Arte, a ECA, da Universidade de São Paulo. Criou um roteiro que parece inicial, mas que volta e meia contradiz o que as aparências sugerem e, no final, recorre a vários flash-backs explicativos que mudam os rumos da narrativa. É um processo que Hollywood gosta de usar, o whodunit, mas o de Moreira não é certamente convencional.
O personagem central, ou um dos personagens centrais, é um crente que também é assassino de aluguel. “O cinema tem mostrado crentes que se convertem e renegam seus crimes ou que continuam matando. Queria criar um personagem intermediário entre esses extremos.” Teodoro é seu nome e ele é totalmente ambíguo. Não se encaixa na definição de figura do mal. Quem é do mal é o personagem de Ailton Graça, Waldomiro. Descobre-se, no fim, que se trata de um Otelo que é o próprio Iago e arma toda uma maquinação destruidora.
“Nosso País é cheio de contradições. Não existe um Brasil, uma só realidade. Existem visões da realidade e a minha quer mostrar o País que as aparências muitas vezes mascaram’, contou Moreira.