Sempre antes de começar a gravar mais um Altas Horas, Serginho Groisman tira alguns minutos para conhecer a platéia. Cumprimenta os jovens, fala com um e com outro, adianta quais serão as bandas e os convidados da noite. Assim, o paulistano de 54 anos acredita que ganha uma certa intimidade com os adolescentes espalhados pelo estúdio da Globo, em São Paulo. “Este é um espaço onde eles sabem que podem se expressar”, explica Serginho, que também apresenta e dirige o Ação, nas manhãs de sábado, voltado para iniciativas na área de educação e voluntariado.
A iluminação homogênea, a forma circular da arquibancada e até a ausência de palco, tudo no Altas Horas é, segundo o apresentador e diretor, planejado para que não haja diferença entre artistas e platéia. “Sempre pensei numa maneira de democratizar um pouco a televisão. Mas o programa é só uma experiência”, minimiza Serginho, que há três anos comanda as madrugadas de sábado da Globo.
De fato, a maneira simples com que Serginho Groisman conduz o Altas Horas surpreende. Enquanto apresentadores de programas jovens tentam se diferenciar pelo visual “moderno”, profusão de gírias e atitudes “ousadas”, Serginho prefere ser apenas um “mediador” de debates. Tem sido assim desde que estreou na tevê, em 1988, à frente do extinto TV Mix, da Gazeta. Já na Cultura, comandou o Matéria-Prima, realizado no mesmo formato que se consagraria depois no Programa Livre, do SBT, onde permaneceu por oito anos.A mudança para a Globo aconteceu em 1999. Depois de um ano de aparições homeopáticas, Serginho estreou o Altas Horas, em novembro de 2000. Desde então, o “bacurau” não perde uma eleição “Melhores & Piores”, realizada por TV Press. Na edição de 2003, ele foi escolhido, pelo quarto ano consecutivo, o Melhor Programa de Auditório da televisão brasileira. Já Serginho Groisman faturou, pela terceira vez, o título de Melhor Apresentador. “No início, cativei a audiência com atrações mais populares. Mas, hoje, tenho o programa em que sempre acreditei”, admite, sem rodeios.
Questão de educação
Serginho Groisman pode até não ter sido um dos alunos mais aplicados no colégio, mas foi um dos mais militantes. Desde cedo, esse paulistano do bairro judaico do Bom Retiro cultiva a imagem de pessoa engajada nos problemas políticos e sociais do País. Já no Colégio Renascença, onde cursou o primeiro grau, foi diretor do grêmio estudantil. A liderança de Serginho continuou no Colégio Equipe. De aluno acabou virando coordenador do centro cultural da escola. Entre 1970 a 1980, promoveu shows e produziu programas de rádio. “Foi assim que conheci Caetano, Gil, Cartola, Nélson Cavaquinho… Na época da ditadura, era um dos poucos lugares onde a gente podia se expressar”, lembra.
As agitações estudantis ficaram no passado. Mas não a militância por uma boa causa. Atualmente, Serginho não esconde a satisfação por comandar o programa Ação, nas manhãs de sábado na Globo. Nele, o apresentador fornece uma ampla visão sobre o ensino, a atuação de organizações não-governamentais e o trabalho voluntário no Brasil. A média de 6 pontos de audiência nem sempre é suficiente para bater os desenhos animados do SBT. Mas o programa permanece na grade. “É uma questão de força institucional. Felizmente a Globo percebeu isso. Mostramos um Brasil mobilizado, que está crescendo a cada ano”, empolga-se o apresentador.
Agitação cultural
Filho de romeno com polonesa, Serginho sonhava em ser astro do rock na juventude. Mas nunca se encaixou no perfil de um típico roqueiro. Até hoje, ele não bebe, não fuma, não toma café nem nada gelado. Apesar de não ter realizado o sonho de adolescência, Serginho alcançou notoriedade ao falar com o público adolescente num linguajar franco e despojado. O início de carreira aconteceu na Rádio Bandeirantes, de São Paulo, em 1981. Lá, ficou famoso pelas entrevistas de cunho político e cultural que fazia com jogadores de futebol.
O programa Matéria- Prima, fórmula embrionária do Programa Livre, surgiu na Rádio Cultura AM, de São Paulo. Serginho, no entanto, não ficou muito tempo restrito às ondas do rádio. Passou a apresentar o Matéria-Prima na TV Cultura, onde trabalhou de 1988 a 1990. Depois, o empresário Sílvio Santos o convidou para trabalhar no SBT. Mesmo descontente com as 40 alterações de horário promovidas ao longo de oito anos, Serginho guarda boas recordações da época. “Lá aprendi a ter preocupação em chegar ao grande público”, avalia.
