O humorista Felipe Torres, o Boça, chega aos berros à Galeria do Rock. Com uma prateleira portátil recheada de DVDs piratas, ele chama a atenção de quem caminha pelo imponente prédio no centro de São Paulo. “São 3 por 10 ‘real’. Promoção do dia, rapaziada. Alguém vai querer?”, brinca o ator. Ao lado de Adriano Silva, Franco Fanti e Marco Antônio, o humorista tumultua o ambiente. Alguns param os rapazes para cumprimentá-los. O quarteto se encontrou com a reportagem no local para falar sobre o nova temporada do programa Hermes e Renato, que estreia na quinta-feira, 17, no FX, às 22h. “Faz todo sentido a gente conversar na Galeria do Rock. Gravamos muita coisa aqui. Ótimas recordações vêm à mente”, afirma Felipe.

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Durante a manhã de uma segunda-feira nublada, os quatro rapazes abusam do humor escrachado e dos palavrões exagerados que marcaram a carreira do grupo humorístico. Quem foi adolescente nos anos 2000 e não conheceu Hermes e Renato, certamente, não teve uma juventude feliz. Marco Antônio Alves, Fausto Fanti, Adriano Silva, Bruno Sutter e Felipe Torres revolucionaram a maneira de fazer humor na TV. As piadas nonsense dos cinco rapazes de Petrópolis, no Rio, arrancaram boas risadas de uma geração que começava a descobrir a força da internet e, ao mesmo tempo, sofria ameaças do temido bug do milênio.

O programa foi ao ar na MTV de 1999 a 2009. Tela Class, Sinhá Boça, O Proxeneta: muitas foram as invenções. Entre os personagens clássicos, alguns deles são lembrados até hoje. Caso de Joselito de Cascatinha, Boça, Cláudio Ricardo, Bichinha Pobre, Palhaço Gozo, Padre Quemedo e a banda Massacration. Após a passagem apagada pelo Legendários, da Record, eles voltaram à emissora musical em 2013, onde ficaram até julho, quando o Grupo Abril decidiu devolver a marca MTV Brasil para a Viacom e uma reformulação geral na grade da emissora foi anunciada.

Depois de dois anos fora das telinhas, os rapazes retornam à TV. Desta vez, no entanto, sem Bruno Sutter, que deixou o grupo, e o líder Fausto Fanti, que foi encontrado morto em seu apartamento em julho de 2014. O irmão de Fausto, Franco Fanti, completa o time. Ao todo, serão 12 episódios com duração de 30 minutos. Além de Boça (Felipe Torres) e Joselito (Adriano Silva), a temporada no FX ganha novas sátiras. Os principais são Gloria Kalinho (Gloria Kalil), João Krepe (João Kléber) e Drauzio Vareta (Drauzio Varella). Os mais de 100 esquetes exclusivos contaram com a colaboração de Fausto Fanti e Bruno Sutter.

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As cenas foram gravadas antes da morte de Fausto, na metade do ano passado. “É um pouco complicado falar sobre isso. Está sendo difícil. Muitas pessoas me perguntam se o Fausto tinha ou não traços de depressão e questionam o que ocorreu. Isso, na verdade, não importa mais. Existem muitas maneiras de sentir saudade de alguém: a positiva e a negativa. Eu fico com a primeira, que é justamente a mais saudável e alegre. A gente prefere se lembrar das piadas e o quanto o humor sádico dele fez e ainda faz tanta gente dar risada”, lembra o irmão Franco Fanti. “Sempre precisamos cuidar de quem amamos. Dedicar 5 minutos para as pessoas que gostamos é fundamental em tempos tão difíceis. Isso pode salvar algumas vidas”, conclui Marco Antônio Alves.

Além do triste episódio envolvendo Fausto, os integrantes do Hermes e Renato também tiveram de lidar com o processo judicial de Gil Brother, o popular Away de Petrópolis. Em meados de 2009, o humorista deixou o grupo e, posteriormente, processou os integrantes. Gil Brother cobrava direitos de imagem, danos morais e salários atrasados, que, segundo ele, nunca foram pagos. Após uma longa batalha, Gil perdeu o processo em caráter definitivo. “O Gil ficava dançando break e cantando nas ruas de Petrópolis. A gente sempre via ele por lá. Decidimos levá-lo para o Hermes e Renato, onde atuou de 2002 a 2008. Um belo dia, ele simplesmente sumiu e não apareceu para gravar. Pouco tempo depois, quando já estávamos na Record, descobrimos que o Away estava processando a gente. Vale lembrar que ele perdeu o processo. Não temos raiva, claro. Achamos que o Gil contribuiu muito com o grupo”, afirma Felipe Torres.

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O quarteto não se arrepende de ter ido para Record para trabalhar ao lado de Marcos Mion no programa Legendários. Habituados a uma avalanche de palavrões e a um humor deliberado, Hermes e Renato ficou mais “careta” e as piadas exageradas deram lugar a diálogos pouco inspirados. Alvo de brincadeiras constantes na época da MTV, a igreja evangélica, por motivos óbvios, nunca foi satirizada na Record. “Não sofremos nenhuma censura”, afirma Adriano.

Referências

A marca registrada da série sempre foi o humor politicamente incorreto e os palavrões em abundância. “Nossos maiores exemplos não estão nos programas humorísticos. O grande lance do Hermes e Renato é encontrar humor onde não há humor. Isso ocorre em quadros de culinária ou mesmo em algum programa bizarro. Tudo que é forçado perde a graça”, conclui Felipe.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.