Já passam de dez os personagens que Carmo Dalla Vecchia soma em seu currículo. Mas o perturbado Luciano/Martim, da novela Cobras & Lagartos, sem dúvida, é o de maior visibilidade até hoje. ?Nunca meu trabalho foi tão reconhecido e é muito gostoso sentir o retorno do público?, comemora o ator. A repercussão do atual papel, no entanto, não amedronta Carmo. Sua maneira de encarar o momento, aliás, parece ser a mesma de quando interpretou figuras menos comentadas. ?Tive um imenso carinho com inúmeros trabalhos que já fiz, independentemente do ibope que eles trouxeram?, destaca.
Antes de dar vida ao misterioso homem de dupla personalidade da trama de João Emanuel Carneiro, Carmo Dalla Vecchia foi Carlos Vasconcelos na minissérie JK, também da Globo. Mas desde que estreou na tevê – na minissérie Engraçadinha, de 1995 -, o ator já passou também pela Record, Band e SBT. Na Band, inclusive, interpretou um dos personagens que mais gostou até hoje. Foi na novela Perdidos de Amor, uma produção independente de 1996. ?Eu fazia o Dalton, um grandalhão muito burro que batia em todo mundo. Acho engraçado porque é difícil ver um loiro burro nas novelas?, relembra.
De Chiquititas, que foi ao ar em 1997, no SBT, o ator também guarda boas lembranças. Não só por causa de Rian, personagem que encarnou, mas principalmente pelas condições diferenciadas de trabalho. Recomeçar a gravação de uma cena no momento em que se cometia um erro – o que acontece nas novelas produzidas no Brasil – era inimaginável. ?Em caso de equívoco, tínhamos que começar do zero?, explica. ?Sem contar que era um texto voltado para crianças. Fizemos um exercício constante?, completa Carmo.
Quando soube que ia integrar o elenco de Cobras & Lagartos, Carmo não imaginava que Luciano/Martim ganharia tanto espaço na história. Essa expectativa, confessa ele, era mais comum no início da carreira. ?Nos primeiros trabalhos eu tinha expectativas maiores. Com o tempo aprendi a relaxar em relação a isso?, afirma. Atualmente ele defende que o melhor é esperar para conferir qual a brincadeira que o autor vai lhe propor. ?Mas é claro que ator não pode chegar vazio em cena. Tem que fazer o trabalho de casa direitinho e vir armado para entrar na brincadeira?, opina.
Em casa, sempre que o tempo permite, é claro, Carmo também costuma se assistir. Ao analisar seu próprio desempenho, ele prefere não ser exigente além da conta, pois leva em consideração todas as variáveis que interferem na atuação do ator que trabalha em tevê. ?No ritmo louco da gravação de uma novela, permito me dar um desconto às vezes. Em alguns dias gosto do que vejo, em outros, não. Mas sempre dou o melhor de mim?, assegura, sem titubear.
Toda essa ponderação aparente só não persiste na hora de falar dos papéis que mais gosta de interpretar. Admirador dos descontrolados e problemáticos, Carmo prefere os personagens com perfil psicológico mais denso, pois acredita ser mais fácil criar em cima. ?Para mim, fazer cenas dramaticamente fortes é muito mais fácil do que encenar um bate-papo na mesa de café da manhã?, explica. Admirador dos atores que sabem defender com competência os mocinhos, Carmo prefere, literalmente, ?botar para quebrar?. ?Tenho mais facilidade para fazer o cara que detona o quarto e fica aos prantos no final da cena?, reconhece o ator.
Paixão sem obrigação
Se muitos atores confessam preferir o teatro ou o cinema, Carmo Dalla Vecchia não hesita em dizer que gosta mesmo é de televisão. ?Comigo não existe aquela história de fazer novela para ganhar uma grana. Adoro fazer tevê?, enfatiza. Mesmo com alguns filmes no currículo, como o comentado Onde Andará Dulce Veiga, e com uma carreira teatral, o ator é fascinado pela possibilidade única que tem na televisão de transformar um personagem. ?Ganho um papel e não sei onde ele vai parar. Às vezes ele é aparentemente pequeno e toma importância no caminho. Isso é louco?, defende.
Apesar de considerar que um ritmo de gravações mais calmo possibilitaria uma dedicação maior dos atores, Carmo acredita que o bom resultado de uma novela se deve à dedicação de toda a equipe envolvida. ?Mas uma boa história é fundamental?, pondera, ao destacar a importância do autor. Longe de menosprezar a televisão, Carmo defende ser impossível comparar o trabalho no veículo com qualquer outro. ?Gravar uma enorme quantidade de cenas, ter pouco tempo para decorar o texto e ainda conseguir passar naturalidade e verdade não é fácil. Acho um mérito fazer isso bem?, ressalta.