Com menos dinheiro, Flip se simplifica

A Flip parece ter encontrado um equilíbrio entre usar a cidade e envolver a população. É que o que acreditam os organizadores. “Uma cidade que vive do turismo às vezes se empresta para o evento acontecer. Isso não quer dizer que ela esteja envolvida ou que o morador ache que aquele evento é para ele. Essas mudanças todas deixam a sensação de que houve esse encontro”, disse Izabel Costa Cermelli, uma das diretoras do festival.

A mudança a que se refere ela diz respeito à estrutura da Flip. Este ano, a organização resolveu excluir a tenda do telão e criou dois novos espaços para que o público pudesse acompanhar os debates. E se antes assistir pela tela custava R$ 12, agora foi tudo gratuito.

A decisão é recente. Em maio, quando foi anunciada a programação desta 12ª edição, o telão ainda existia. Mauro Munhoz, presidente da Flip, disse que a evolução tecnológica e a diminuição dos custos de aluguel das telas ajudaram a viabilizar. A escolha permitiu que mais pessoas assistissem os debates realizados ao vivo na Tenda dos Autores, com ingressos a R$ 46.

A Flip sempre teve fama de ser um evento elitista. E isso ficou claro no ano passado, quando um protesto mobilizou a população, que caminhou pela cidade até chegar à tenda principal. Era início de julho, e o País ainda vivia sob o impacto das manifestações de junho. Os pedidos eram variados, como educação e saúde, mas a Flip foi alvo de alguns cartazes, como o que reclamava que a população não podia participar por causa do preço do ingresso.

“A sensação é de que o público se sentiu mais à vontade para 7 participar. Com a distribuição dos telões, vimos que tínhamos uma população com graus de interesse diferentes, mas uma população muito mais conectada com o que estava acontecendo na programação. É o espírito da primeira Flip. De lá para cá, ela foi crescendo, mas tivemos, este ano, a chance de repensar. Acho que isso foi fruto, também, das manifestações que a gente viu no ano passado e que fizeram a gente olhar para a Flip para ver o quanto ela está aberta ou fechada, o quanto ela é ou não é democrática”, comentou Izabel.

Outro fator que poderia justificar a iniciativa é que os patrocínios foram mais raros este ano, e os gastos tiveram de ser repensados. Orçada em R$ 9,3 milhões, ela pode captar, por meio de leis de incentivo, R$ 5,9 milhões. Até agora, porém, conseguiu R$ 4.337.700 (72%). “A conta vai fechar”, garantiu Mauro Munhoz. “Assim a gente espera”, completou Izabel.

“Não consigo imaginar a volta da tenda do telão depois de ver cenas de quase praia, que surgiram espontaneamente”, disse o curador Paulo Werneck, que ainda não foi confirmado para a próxima edição. Ele foi responsável por uma programação eclética, com debates que iam da luta indígena à guerra em Gaza, da depressão à alimentação e educação, e que discutiu, ainda, os 50 anos do golpe militar, o humor e, claro, o ofício da escrita. Werneck disse que “essa é a Flip das Flips”.

Números

A organização estima que entre 26 mil e 27 mil pessoas tenham circulado pelo centro histórico desde quarta. O número divulgado no ano passado foi 25 mil. A sensação, no entanto, é de que a cidade está mais vazia. “Na programação principal, tivemos 12.069 acessos até a mesa 14 (outras seis ainda seriam realizadas). Em 2013, até a mesma mesa 14, o número era 9.482, cerca de 30% a menos”, disse Munhoz. Pela Flipinha devem ter passado 18.500 crianças e pela Flipzona, 1.780 adolescentes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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