Em Gramado, no ano passado, em pleno efeito Aquarius – e durante a homenagem que lhe prestou o Festival de Cinema Brasileiro e Latino -, Sonia Braga teve de conter o arroubo dos jornalistas. Foi durante sua entrevista coletiva, quando ela anunciou que faria a mãe de Julia Roberts no próximo filme da estrela. “Calma, gente; vai ser só uma participação pequena, e eu não contraceno com ela.” O filme estreia nesta quinta, 7, nos cinemas brasileiras, a participação de Sonia resume-se a uma cena, mas é um momento mágico. O próprio filme é fora de série. Não por acaso, chama-se Extraordinário.

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É uma adaptação do livro de Raquel Jaramillo, escondida por trás do pseudônimo de R.J. Palacio. Extraordinário conta a história de August, um menino que nasceu com uma rara deformidade facial. “Auggie” foi criado em casa, na redoma protetora da família, mas quando o filme começa, ele está indo à escola pela primeira vez. Demoramos um pouco para vê-lo. A câmera, subjetiva, adota seu ponto de vista e Auggie ainda se protege com a máscara de astronauta. Na porta da escola, o pai, Owen Wilson, tira do filho a proteção e a mãe, Julia, diz baixinho – “Ó Deus, fazei com que sejam gentis com ele.”

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Era o que também queria a autora. Extraordinário, o livro, é um raro lançamento que inclui, à maneira dos extras de DVDs, um apêndice com making of do filme, a palavra da autora, do diretor Stephen Chbosky, do elenco, etc. R.J. diz que o que mais queria é que o filme fosse um manifesto de gentileza num mundo cada vez mais materialista e autocentrado. A propósito, o diretor conta qual foi seu momento mais emocionante durante a filmagem, mas convém não revelar agora, para não tirar a graça. Deixe para ler a palavra do diretor, depois.

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Para espectadores não tão jovens – que viveram os anos 1980 e assistiram a Marcas do Destino/Mask -, Extraordinário talvez faça lembrar o longa de Peter Bogdanovich com Cher, no papel que lhe deu o prêmio de melhor atriz em Cannes. Marcas do Destino é sobre outro garoto com o rosto deformado, e cuja mãe se esforça para lhe garantir uma infância feliz. Seria muito fácil fazer de Extraordinário um filme apelativo, melodramático. Diretor e elenco superaram o desafio. Julia, Sonia, o garoto Jacob Tremblay – O Quarto de Jack – são gloriosos. Mas o “eureca” é do livro. Um achado da escritora. Ela conta a história de Auggie pelos olhos dos demais personagens. Cada um com seus problemas. Isso relativiza a dor de Auggie. E fortalece a corrente do bem que é sua vida.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.