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Com integrantes com mais de 30 anos, Ludovic mostra nova visão de si e do mundo

Na imagem ao lado, logo atrás dos quatro integrantes do Ludovic – Jair Naves (voz e baixo), Eduardo Praça (guitarra), Zeek Underwood (guitarra) e Rodrigo Montorso (bateria) -, há um fotografia enquadrada de Marcelo Camelo, ex-Los Hermanos, sentado à beira da mesma mesa do bar São Cristóvão, na Vila Madalena, em São Paulo.

Encontrar a figura ali de Camelo, com a barba por fazer, camisa larga e três botões abertos, foi uma coincidência daquelas – o bar nem sequer estava na ideia inicial para a sessão de fotos -, mas diz muito, ao mesmo tempo. Porque representa os opostos de uma mesma geração alternativa. A carioca Los Hermanos, com o sucesso de Anna Julia, alcançou fama nacional – até o beatle George Harrison gravou uma versão da canção antes de morrer, em 2001. Naquele fim dos anos 1990 e início da década seguinte, Camelo e companhia eram solares como o Rio, com um primeiro disco de hardcore floreado por metais.

Se os Hermanos eram o dia, o Ludovic era a noite. Soturna, quase gótica, carregada pelas guitarras enfurecidas de Underwood e Graça e, principalmente, pelos versos declamados de forma vomitada por Naves. Hermanos era alegria, mesmo com versos agridoces; Ludovic era a solidão de um quarto escuro e vazio.

É pouco o que liga os dois grupos, de fato. Ainda assim, o curioso da foto de Camelo estar ali escancara também caminhos que uma banda alternativa pode tomar. Os Hermanos preferiram a inanição e as turnês sem material inédito. O Ludovic, corajoso, segue atrás de encontrar um novo propósito para escrever canções.

É o que motiva essa nova reunião da banda no Sesc Pompeia na quinta-feira, 23: o lançamento do primeiro single do grupo em 11 anos. Inexorcizável (Um Zumbido Ensurdecedor) é canção que marca o renascimento de uma banda que marcou o underground e se despediu sem nunca atingir seu máximo potencial – eram outros tempos, a internet engatinhava e o sucesso era medido de outra forma, algo mais abrangente e menos de nicho, como hoje.

Jair Naves, que na carreira solo lançou dois discos, um EP e ganhou o prêmio APCA de revelação, estava receoso com a feitura da primeira música em mais de uma década. “Para mim, é importante que o trabalho atual faça justiça ao que fizemos antes”, revela. Ele cita exemplos de bandas que revividas não foram capazes de atingir a excelência de outrora. “Fiquei em uma crise enorme”, conta Naves. “Sabíamos que, por um milagre inexplicável, nosso público aumentou e se renovou (nesse período de inanição). Então, era preciso entregar algo no mesmo nível.”

Inexorcizável (Um Zumbido Ensurdecedor) é, definitivamente, uma música do Ludovic, sem tirar, nem pôr. As guitarras já não correm mais do que devem. O que é bom. Elas abrem espaço para Naves declamar seus versos ainda igualmente angustiantes (ainda bem!), com gosto por palavras enormes (ainda bem!!), a lidar com temas que quase sempre envolvem solidão e um olhar para si.

O mais divertido de se ouvir a praticamente mesma formação de uma banda anos depois – no caso do Ludovic, apenas Montorso é uma adição à nova versão do grupo – é encontrar nuances e pequenas mudanças, por mais sutis que sejam. Há na nova música algo que não se ouviu em 2004, com o disco Servil, e em 2006, com Idioma Morto, por exemplo.

Talvez seja um reflexo da vida que Jair Naves leva hoje, não mais tão sombria. “Fica comigo até eu dormir, não deixa eu me destruir / Gente como eu não tem escolha”, diz a estrofe. É uma maturidade, entendimento de si, que não existia (ou não existe) a quem tem 20 e poucos anos. Culpa-se o outro, o entorno, incapaz de olhar para dentro e perceber as próprias falhas de forma mais aprofundada.

Inexorcizável é uma das poucas músicas do Ludovic que sobreviveram aos anos de inatividade. A música foi uma das oito gravadas para aquele que seria o terceiro disco da banda, ainda em 2008. O projeto foi abortado por evidenciar a distância criativa que habitavam Naves, Graça e Underwood. “Mas sempre amamos essa melodia”, explica Naves. “Voltar a mexer nessa música serviu para sabermos se ainda funcionaríamos no estúdio, porque no palco é sempre outra coisa. Se havia química. E, sim, ainda existe. É possível envelhecer tocando essas canções enérgicas.”

LUDOVIC

Sesc Pompeia. Comedoria.

Rua Clélia, 93, Pompeia,

tel.: 3871-7700. Dia 23 (5ª), 21h30. R$ 6 a R$ 20.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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