Difícil imaginar que o talentoso ator e diretor Elias Andreato, em mais de quatro décadas de uma premiada carreira, tenha passado pela crise dos 30 anos. Ele que já interpretou o pintor holandês Vincent van Gogh, dirigiu atores consagrados como Paulo Autran e Marília Pêra, participou de filmes, novelas e séries, além de, recentemente, dividir o palco com Cláudio Fontana na versão dele do clássico Esperando Godot, de Samuel Beckett. “As pessoas cobram muito, você se sente inferiorizado, um fracassado. Todo mundo cobra o sucesso, se dar bem. Eu mesmo me cobrava”, conta Andreato.

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Agora, o diretor relembra esse período de vacas magras na peça Help, sua segunda incursão pela dramaturgia, mas pelo viés do humor. Mais ainda, a comédia é uma celebração da amizade e uma homenagem à amiga Célia Forte, autora e produtora que há mais de 30 anos se dedica ao fazer teatral.

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Os dois se conhecem há muito tempo, mas ele se recusa a dizer o quanto…

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“A amizade é uma das coisas mais importantes que o ser humano inventou e tem que cultivar. Porque os amores não são mais eternos, então, a gente tem que preservar as amizades para não ficar sozinho e morrer de tédio”, afirma o diretor, que misturou experiências próprias da juventude a relatos de amigos para criar o enredo da peça, em cartaz no Teatro Eva Herz, da Livraria Cultura da Avenida Paulista, em horário alternativo (18 horas aos sábados e 16 horas aos domingos).

O “help” do título se refere ao pedido de ajuda dos personagens solitários da trama para tentar enfrentar as instabilidades profissionais e amorosas. São eles a jornalista Regina, de 35 anos, exuberante e divertida, e o escritor Thiago, de 30, mais introspectivo e em busca de uma motivação na carreira. Os dois amigos acabam dividindo um apartamento nessa fase mais complicada da vida deles.

Cabe ainda uma crítica do autor aos relacionamentos virtuais das redes sociais, que, para Andreato, têm isolado mais as pessoas. O tom é de que o mais importante é o “face to face” do que o estar no Facebook.

Além de um texto repleto de expressões em inglês, a trilha sonora vem embasar o relacionamento de Regina e Thiago com jazz e blues, mas na roupagem de novas cantoras, como as americanas Norah Jones, Colbie Caillat e Caroline Pennell e a inglesa Lily Allen. “O objetivo da trilha é trabalhar a delicadeza. Ajudar a plateia a entrar nesse universo que é jovem, mas com uma certa poesia, uma certa delicadeza”, diz o assistente de direção Raphael Gama, que selecionou o repertório.

Ele conta que o uso de uma versão de Help, dos Beatles, gravada por Tina Turner chegou a ser cogitado, mas depois mudaram de ideia.

Para o papel de Thiago, Andreato escolheu o ator Eduardo Ximenes, de 26 anos, que faz sua segunda peça e com quem o diretor já havia trabalhado anteriormente e também foi seu professor na Escola de Atores Wolf Maia. “A grande motivação mesmo que eu senti lendo esse texto foi essa questão da solidão e a gente estar sempre sujeito à bondade de outras pessoas, à bondade de estranhos”, afirma Ximenes.

Ele diz ter o temperamento parecido com o do alter ego de seu personagem, além da “inquietação diante de certas coisas que passam sem ser discutidas”.

Já Maria Pinna, que faz Regina – mesmo nome da vilã que interpretou na novela infantil Cúmplices de Um Resgate, do SBT – foi apresentada ao diretor pela atriz Tânia Bondezan, colega de elenco da TV. “Ela (Regina) tem essa questão de fazer piada, de colocar tudo para cima, de tentar não sofrer com as coisas e tentar botar ele sempre para cima, porque no fundo também ela tem os vazios dela, mas em vez de demonstrar como o Thiago demonstra, ela guarda e vai fazendo piada atrás de piada. E quando ela está sozinha, consegue mostrar a fragilidade”, explica Maria sobre sua personagem, com que faz sua estreia no teatro.

“Eu convivi com muitas mulheres, me apaixonei por uma mulher muito próxima dessa figura. A própria Célia é um pouco isso, é uma pessoa extremamente otimista, ela é alegre, gosta de viver. E mulher tem um lado muito mais simples que o homem, ela externa o sentimento de uma forma muito plena, a gente é muito travado, né?”, comenta Andreato.

E como o tempo de agruras ficou no passado, o diretor se presta a colaborar no desenvolvimento profissional das novas gerações, como dando oportunidade à sua dupla de protagonistas. “Eu venho da periferia, comecei no teatro amador, é difícil você entrar em qualquer lugar, no mercado, furar algumas barreiras, então, eu acho que posso cumprir um papel legal.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.