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Com ‘Futuro do Pretérito’, grupo Garotas Suecas flerta com questões políticas

No futuro do pretérito, mora o “teria”. No mesmo tempo verbal, respira por aparelhos o “seria”. É ali que morrem os sonhos nunca vividos, que planos se vão para definhar, onde os relacionamentos fadados ao fracasso apodrecem e se tornam cinza. No futuro do pretérito, o mais melancólico dos tempos verbais, vive aquilo que jamais existirá de fato. É a casa das lembranças nunca formadas. É também o objeto de estudo do Garotas Suecas, o efervescente quarteto paulistano, em seu terceiro disco de carreira, cujo nome você já imagina qual seja: Futuro do Pretérito. Com lançamento pelo selo Freak, em formato físico e digital, nesta sexta-feira, 27, o álbum encontra a banda em sua melhor forma – e formação. Depois de saídas de integrantes – Guilherme Saldanha deixou o grupo em 2014 -, o Garotas se estabeleceu como um quarteto, todos compõem, todos cantam e todos tocam.

Encaixotados em categorias musicais como jovem guarda ou black music, os quatro hoje são capazes de mostrar que não são nada mais disso. Futuro do Pretérito, sucessor de Feras Míticas, é enfim o disco de uma banda que encontrou sua sonoridade própria – e que se danem as caixas, prateleiras, gavetas ou pastas e qualquer metáfora usada para enclausurar o som de determinada banda.

Ao ouvir o álbum pronto, Tomaz Paoliello achou se tratar de um disco de rock. Depois, disseram-lhe se tratar de um trabalho que levitava ao sabor da soul music. Por fim, deu nos ombros. “É um disco no qual nossas referências foram diluídas”, explica o guitarrista e também vocalista. “Nos discos anteriores, às vezes ouvíamos uma música ou outra para nos inspirarmos, um Marvin Gaye, coisa assim. Desta vez, não fizemos isso. Fomos pela nossa dinâmica própria.”

Feras Míticas foi um disco lançado pouco antes das manifestações de junho de 2013. “Até pode se dizer que o disco resvalava neste tema”, diz Tomaz. Desde então, o caos político, econômico e social no País entrou em ebulição. E Futuro do Pretérito, explica Nico Paoliello, o baterista, um dos vocalistas e também irmão de Tomaz, é um álbum que reflete mais os nossos tempos. “É um disco que questiona o que é feito hoje em dia, uma repetição ao que era feito décadas atrás. Há um extremismo ressurgindo, que achávamos que havia ficado para trás.”

“Mas”, continua Nico, “eu acho que faz sentido pensar sobre o futuro do pretérito ser o tempo verbal mais triste que existe. Porque é uma questão autobiográfica para gente, muita coisa mudou, muita coisa fugiu dos nossos planos, desde que lançamos Feras Míticas.”

A esperança, contudo, também mora no futuro do pretérito – seja o disco, seja o tempo verbal. Porque, ao lado dele, há o futuro do presente. Esse, mais real, abre novos caminhos. Certas coisas deveriam ficar no pretérito, mesmo.

GAROTAS SUECAS

FUTURO DO PRETÉRITO

FREAK; R$ 20 E PLATAFORMAS DIGITAIS

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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