Quando um grupo de teatro comemora uma efeméride, é comum que se faça uma mostra de repertório, uma retrospectiva da história da companhia com peças que marcaram sua trajetória. Não para Os Satyros. “Talvez a gente remonte um espetáculo, mas isso não é a nossa cara”, diz Rodolfo García Vázquez, que, ao lado de Ivam Cabral, criou o coletivo.

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As comemorações dos 25 anos de trabalho começaram no primeiro semestre com E Se Fez a Humanidade Ciborgue em 7 Dias, um conjunto de sete espetáculos, seguiu com 3XRoveri, projeto em que três diretores mostravam, com o mesmo elenco, versões distintas do texto Os que Vêm com a Maré, de Sérgio Roveri. Em agosto, estrearam Pessoas Perfeitas, ainda em cartaz. Para encerrar os festejos, o grupo troca a Praça Roosevelt, seu reduto, pela Avenida Paulista: cumpre, a partir desta quarta-feira, 29, até domingo, 2, no Itaú Cultural, uma programação com três peças – aí, sim, uma pequena mostra de repertório – um debate e a exibição do documentário Os Satyros, de Evaldo Mocarzel.

É Pessoas Perfeitas que abre o evento. Tida como uma das melhores montagens do ano pelo crítico de teatro do Estado, Jefferson Del Rios, a peça mostra a vida de moradores anônimos do centro da cidade que, apesar de diferentes, convivem. É o caso, por exemplo, da jovem mística Medalha: em busca de experiências espirituais, passa a frequentar a Igreja das Pessoas Perfeitas, com seu namorado Binho, que é garoto de programa.

Um ano após sua estreia, Adormecidos volta para ocupar a Sala Itaú Cultural no sábado. O texto explora os relacionamentos e a maneira com que cada um projeta anseios no parceiro. No palco, dois casais se revezam em um cenário que mistura sonho e realidade.

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No domingo, 2, a infantil Mitos Indígenas sugere um retorno às origens do grupo, que se apresentou pela primeira vez em São Paulo com a também infantil Aventuras de Arlequim, em 1989 – segundo García, um fracasso de público, mas que concedeu o prêmio APCA de melhor ator a Ivam Cabral e a indicação da dupla ao Mambembe de melhor texto.

Cinema

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Com direção de Evaldo Mocarzel, o documentário Os Satyros é exibido na sexta. “A ideia era fazer um filme sobre os 20 anos da cia., mas a parceria virou uma trilogia”, diz o diretor, que também assina Vila Verde e Cuba Libre, obras que têm relação com o grupo. Com os cortes já definidos, mas ainda em fase de finalização, o filme recupera os momentos d’Os Satyros por meio de entrevistas com seus membros essenciais: além dos fundadores, dão seus depoimentos as atrizes Gisa Gutervil, Cléo de Páris e a mítica Phedra de Córdoba.

Segundo Vázquez, porém a mais preciosa das participações é a de Alberto Guzik (1944- 2010). Após atuar como crítico do Estado, ele se uniu a’Os Satyros para trabalhar como ator e dramaturgo. “Gestamos a escola por cinco anos”, diz Vázquez, em referência à SP Escola de Teatro, na Praça Roosevelt, que nasceu de um projeto do grupo. “Dias antes da inauguração, ele foi operado e não saiu mais do hospital.” Guzik seria o coordenador pedagógico da instituição.

Além dos depoimentos, Os Satyros têm um jogo interessante com a luz. A pedido de Mocarzel, Vázquez, que é iluminador, criou a luz para cada um dos participantes do documentário, sempre com base em suas personalidades. Em momentos do filme, Vázquez explica de que forma a iluminação conversa com os integrantes do grupo.

Imagens antigas da Praça Roosevelt, é claro, não poderiam ficar de fora. O grupo tem uma relação importante com o local. Eles chegaram por lá em 2000, quando a praça era escura, violenta e dominada pelo tráfico de drogas. “Éramos ameaçados a cada seis meses”, diz Vázquez. “Na última ligação que recebi, em 2005, disseram que, se não pagássemos pelo ponto, haveria banho de sangue.”

A presença d’Os Satyros e do Teatro Studio 184, que chegara ali antes, acabou atraindo a chegada de outras trupes. “Os Parlapatões, que chegaram entre 2006 e 2007, trouxeram outro sentido à praça”, analisa Vázquez, em referência ao estilo teatral do grupo e ao espaço que ocupava: com um bar maior, atraíram outro público.

Reforma

Quase fechado no ano passado pelo preço do aluguel, o Espaço dos Satyros 2, também localizado na Roosevelt, conseguiu resistir. Após um acordo com os donos do imóvel – que abriram mão de seis meses de aluguel pela reforma do prédio – e com o apoio de um escritório de arquitetura, o grupo deve reabrir a unidade no fim de novembro, quando ocorrem as Satyrianas, com 78 horas de teatro pela cidade. No entanto, o futuro do local, que se chamará Estação Satyros, é incerto. “Não tenho ideia de como vamos pagar o aluguel quando acabar a carência”, diz Vázquez. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.