Nem sempre imparcialidade é sinônimo de bom jornalismo. No caso dos comentaristas dos telejornais, muito pelo contrário. É justamente saber o que ele pensa sobre determinado assunto é que faz com que o espectador se sinta ainda mais motivado a sintonizar em determinado telejornal. E caso as idéias do comentarista sejam pertinentes e bem embasadas, a possibilidade de ele conseguir agregar audiência ao telejornal é grande. No entanto, são poucos os comentaristas que realmente conseguem injetar personalidade na hora de refletir as notícias. E raros os telejornais que utilizam de maneira eficaz seus comentaristas. Mas existem exceções.
Na Globo, por exemplo, dois comentaristas se destacam pela maneira marcante de se colocar no vídeo: Miriam Leitão, no Bom Dia Brasil, e Arnaldo Jabor, no Jornal da Globo. São casos que ilustram bem quando um comentarista tem a ver com a produção que participa. Miriam Leitão, por exemplo, é uma das jornalistas brasileiras com maior credibilidade na área econômica e tem tudo a ver com o Bom Dia Brasil. Isso porque o telejornal matinal é visto por um público de empresários que está prestes a sair para o trabalho. Para eles, informações quentes e confiáveis são sempre bem-vindas. Além disso, a jornalista se encaixa no clima “informal” do Bom Dia Brasil e ajuda os apresentadores Renato Machado e Renata Vasconcelos nas entrevistas com políticos e profissionais da área econômica.
Já Arnaldo Jabor segue a linha mais da “reflexão” da notícia e cai como uma luva para o Jornal da Globo. Isso porque o último telejornal diário da emissora vai ao ar já de madrugada e serve mais como um balanço do dia. Por isso, as crônicas personalíssimas de Jabor sobre os mais variados assuntos podem servir para o espectador fazer um paralelo com as idéias do jornalista para chegar a sua própria conclusão. Entre os comentaristas, Jabor é também o menos previsível, o que faz com que suas aparições agucem a curiosidade do público. Ora utilizando muitas metáforas e um humor ácido, ora indo direto ao assunto, a verdade é que Jabor é o comentarista que mais foge da postura tradicional. E é justamente esta dose de imprevisibilidade que já se espera dele no Jornal da Globo.
Primeira mão
Exatamente o oposto do estilo de Ricardo Boechat na Band, por exemplo. O jornalista é daqueles que se planta na frente do vídeo e simplesmente lê o que tem para falar. No caso de Boechat, que comenta sobre os bastidores da economia e da política no Jornal da Band, as informações que ele traz em seus comentários são a parte mais valiosa de suas aparições. Desde os tempos que fazia parte da equipe do Bom Dia Brasil, da Globo, que o jornalista é conhecido por trazer informações em primeira mão e não necessariamente dar uma visão diferenciada sobre determinado assunto. O problema de Ricardo Boechat é que ele, apesar de toda experiência, fica visivelmente pouco confortável na frente das câmeras e parece um tanto petrificado na hora de dar seu recado. Apesar disso, sua presença é de fundamental importância para o Jornal da Band, pois ajuda o telejornal a ter notícias nem sempre iguais aos concorrentes.
Indigestas
A comentarista Salette Lemos é quem tem a missão mais indigesta entre os colegas. A jornalista é responsável pelos comentários sobre economia do Jornal da Record, telejornal comandado pelo emérito palpiteiro Boris Casoy. Como o apresentador já tem a irrefreável tendência de comentar as próprias notícias que anuncia, sempre existe o risco dos comentários de Salette Lemos ficarem sobrando no telejornal da Record. O que compensa no caso do Jornal da Record é que a comentarista já tem afinidade com Boris, pois trabalhou com o jornalista no extinto TJ Brasil, no SBT, e por isso o clima entre os dois é de um agradável bate-papo. Há ainda alguns telejornais onde os comentaristas têm fundamental importância, porque os apresentadores não têm competência para acumular a função. É o caso dos valentes José Nêumanne Pinto e Denise Campos de Toledo no Jornal do SBT – 1.ª Edição, apresentado pelas novatas Cynthia Benini e Analice Nicolau.
