Cortando a polenta para torrá-la
na chapa do fogão.

O tema da alimentação saudável vem interessando cada vez maior número de pessoas. A partir do jornal Cidade Notícias foi possível reencontrar o senhor Armando Túlio, professor de educação artística e comerciante em Santa Felicidade, já entrevistado por mim a respeito das ervas medicinais.

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Zélia:  Como os colonos distribuíam as primeiras refeições do dia?

Túlio: A primeira refeição, magniare del matino, era realizada por volta das seis horas da manhã, antes de sairmos para o trabalho. No cardápio, uma scuella (tigela) de vinho com polenta torrada (poenta brustola) na chapa do fogão. Porém, com o passar dos anos, o vinho foi sendo substituído pelo café. Se a família aumentava, os colonos compravam mais terras. Como as terras da colônia já tinham donos, o jeito era comprá-las nos municípios vizinhos. Então, o tempo entre a primeira e a segunda refeição do dia, para parte da família era gasto no deslocamento até as terras onde estava a lavoura, em um raio de 20 quilômetros, feito com carroça. O restante da família trabalhava na lavoura próxima.

Zélia:  A segunda refeição era feita no mesmo local do trabalho?

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Túlio: É importante salientar que eles saíam de casa na segunda-feira e retornavam no sábado. Assim sendo, a segunda colazion (refeição), ou da segunda-feira, era feita logo após chegarem ao local de trabalho, porque o trajeto levava entre duas e três horas. Eles comiam fatias de polenta torrada, ovos fritos ou luaneghe (lingüiça), com vinho ou café. Algumas vezes, porém, encontrava-se à mesa apenas um pedaço de pan, salado, vin o cafe (pão com salame, vinho ou café).

Zélia:  Qual era o principal cardápio do almoço ou desinare?

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Túlio: Ao meio-dia a sopa, a minestra, era obrigatória, sempre com arroz ou riso e alguma verdura, ou raramente com carne. Assim, as sopas eram múltiplas: de risi (arroz) e ervilhas (bisi) ou risi e luaneghe (arroz com salsichas); de risi e fegatine (arroz e fígado), entre outros. Na refeição, testemunhávamos a versatilidade da cozinheira em toda sorte de risotos, que eram acompanhados de carne cozida na carne lessa (água e sal), que temperávamos em nosso prato com vinagre de vinho, azeite e pimenta. Aos domingos, o cardápio contava com carnes de porco, galinha ou boi e, naturalmente, taiadelle, bigolli (macarrão largo)…

Esse assunto continuará neste espaço. Pretendo futuramente elaborar um dicionário. Se o leitor ainda fala o italiano dos colonos e quiser contribuir, envie-me, por gentileza, as palavras e seus significados e será devidamente citado.

Zélia Maria Bonamigo é jornalista, mestre em antropologia pela UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

zeliabonamigo@uol.com.br