É muito cedo para saber se o recém-descoberto planeta Proxima B, nosso vizinho cósmico – parecido com a Terra, segundo os astrônomos – é habitável ou não, mas não deixa de ser coincidência o fato de o exoplaneta entrar em cena no mesmo momento em que estreia Star Trek – Sem Fronteiras. O enredo do filme não é muito otimista sobre a colonização de outros planetas: nele, a tripulação da USS Enterprise é atacada e presa por alienígenas, forçada a abandonar a nave, sobreviver num planeta sem aparente chance de resgate e ainda enfrentar um inimigo da Federação Unida dos Planetas.
Pode ser que os astrônomos que anunciaram a descoberta do planeta rochoso sejam otimistas demais quando falam em “semelhanças” – o céu lá pode ser tão vermelho que ninguém elegeria o Proxima B entre os prováveis refúgios para terráqueos errantes. Como tudo ainda é especulação, nenhum astrofísico ou astrônomo gosta de falar sobre o assunto. O certo, porém, é que nem a Enterprise nem a colonização de outros planetas pertencem mais ao universo da ficção. Já fazem parte da realidade.
Prova disso é que o respeitado físico britânico Stephen Hawking juntou-se ao bilionário russo Yuri Borisovich Milner, de 54 anos, no projeto Breakthrough Starshot, para levar uma espaçonave a Alpha Centauri.
Isso, sem dúvida, será possível no futuro. Mas, pergunta a especialista Lisa Messeri, por que o sonho de viagens interestelares abriga sempre a ideia de encontrarmos outro planeta semelhante à Terra entre tantas outras fantásticas configurações no universo? Messeri desconfia que seja “pura nostalgia” de um planeta que tem os dias contados: o nosso.
Certa vez, ao conversar com o escritor de ficção Ray Bradbury (1920-2012) ao telefone, questionei essa fixação do ser humano em colonizar outros planetas. O autor de Fahrenheit 451, irritado, respondeu que não tínhamos ideia de quão urgente é buscar a saída de emergência da Terra. Para Bradbury, assim como para Hawking, cedo ou tarde o arsenal nuclear que temos estocado vai mandar o planeta pelos ares. Se não for uma guerra nuclear, diz o físico, “será algum desastre como a colisão de asteroides”.
Claro que não será com os foguetes tradicionais, movidos por combustíveis químicos, que iremos a qualquer lugar – uma sonda como a Voyager 1 levaria 70 mil anos para atingir Proxima B, mas por meio de uma viagem que recorra à dobra especial (a chamada “warp drive da ficção), que por si é um atentado às leis da física. E, mesmo ao chegar lá, teríamos de repensar a engenharia planetária de Proxima B – alterar o meio ambiente de um mundo extraterrestre é extremamente difícil e perigoso. Talvez seja mesmo melhor ficar por aqui e ir ao cinema ver Star Trek.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.