Coletivo transforma Parque Trianon, em SP, em espaço de jogo

Perambular pelas ruas, andando sem um destino definido, sem um lugar certo para chegar. E nessa errância, estabelecer uma relação lúdica com o espaço urbano, interferindo afetivamente nos fluxos de passagem da cidade. Com essa proposta, os atores-performers do Coletivo Teatro Dodecafônico realizam ações de intervenção urbana com o projeto Atos Íntimos Contra o Embrutecimento. Nesta quinta-feira, 29, o ponto de encontro do grupo é o Parque Trianon, na Avenida Paulista, a partir das 16 horas.

“Tem uma vontade nossa de refletir sobre qual é essa cidade em que vivemos e qual é o modo de vida que estabelecemos nessa cidade”, diz a atriz Beatriz Cruz, integrante do grupo.

A ideia é transformar o local da ação em um espaço de jogo, estabelecendo conexões entre expressão corporal, arquitetura e temporalidade. Geralmente, tudo começa com uma balada silenciosa: cada performer com seu fone de ouvido dança obedecendo ao ritmo das músicas de sua playlist. Os atores do coletivo, então, seguem algum passante ou começam, enfileirados, uma caminhada lenta – um contraponto ao ritmo mais acelerado dos arredores. E, em seguida, todos correm e simulam um desmaio ao mesmo tempo.

E enquanto se deslocam, escrevem, com giz ou carvão, frases coletadas em suas pesquisas ou retiradas de textos produzidos pelos participantes das oficinas gratuitas – chamadas de derivas abertas – que realizam uma semana antes de cada intervenção. “Essa é outra característica dos Atos Íntimos – vamos deixando alguns rastros no espaço”, comenta Beatriz. “Esses materiais são muito interessantes porque são efêmeros, ficam durante um tempo e, depois, o vento, a chuva ou mesmo o pisar das pessoas os tiram dali.”

Mais do que refletir sobre a convivência urbana, o coletivo também quer lançar um olhar para as relações das mulheres com o espaço público. Em uma das performances, uma das integrantes, munida de microfone e uma pequena caixa amplificadora, aborda os passantes com perguntas provocativas para se responder com um “sim” ou um “não”. “Você é mulher? Você se sente mulher? Você foi mulher hoje? Foi mulher ontem?”, são alguns dos questionamentos – feitos tanto para homens quanto para mulheres.

“Nesse jogo, começamos a lidar com essa inquietação nossa, essa vontade de mexer com os gêneros”, afirma a atriz e cantora Sandra Ximenez. “É raro alguém se recusar a responder”, conta.

O projeto Atos Íntimos Contra o Embrutecimento – contemplado com o prêmio Funarte Artes de Rua – começou no ano passado, quando o Coletivo Teatro Dodecafônico, que existe desde 2008, fez uma residência artística na SP Escola de Teatro e abriu a participação para interessados na ocupação do espaço urbano. Após um semestre de pesquisa, completou-se a atual composição de performers.

Ao todo, o grupo vai passar por cinco regiões de São Paulo. As próximas intervenções serão na Vila Anglo, no dia 26 de novembro, e na Bela Vista, no dia 17 de dezembro. A área central o e o Jardim Damasceno já foram contemplados, com reações diferentes de quem acompanhou.

No centro, assim como na própria Avenida Paulista, observa Sandra, as pessoas já estavam mais acostumadas com artistas ocupando o espaço urbano. “Não nos sentimos intrusos de jeito nenhum lá”, afirma a atriz. “Mas no Jardim Damasceno, que é um bairro da zona norte carente ainda de ação pública, nós percebemos muito claramente que estávamos em um espaço mais privado, que estávamos passando na frente da casa das pessoas, não na frente de lojas. Então, você chega nas ruas e elas querem saber quem é e por que estão ali.”

ATOS ÍNTIMOS CONTRA O EMBRUTECIMENTO

Parque Trianon. Rua Peixoto Gomide, 949 (altura do 1.700 da Av. Paulista). 5ª, às 16 h. Grátis.

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