A 14ª edição da SP-Arte, que vai até o domingo, 15, no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, tem chamado a atenção de colecionadores não apenas brasileiros. Em sua primeira visita ao País, a sul-africana Pulane Kingston ficou encantada com trabalhos de Sônia Gomes, artista que ainda este ano vai ganhar uma exposição no Masp.

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“Estou interessada em um grande número de obras. Tirei fotos, pedi mais informações”, conta Kingston, em entrevista à reportagem. “A qualidade da arte aqui é fantástica. Espero deixar São Paulo com algumas obras”, brinca a sul-africana, que tem contato com arte brasileira já há três anos, desde que a galeria Goodman, na África do Sul, iniciou o projeto South-South, que conecta artistas dos dois países.

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O interesse da colecionadora especificamente no trabalho de Gomes não é por acaso. Nos últimos quatro anos, Pulane Kingston tem adquirido para sua coleção apenas artistas mulheres. “Decidi catalogar minha coleção e senti vergonha quando olhei para a lista, ao ver apenas uma artista do sexo feminino”.

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“Você não vê muitas artistas mulheres em emergência. Dada a história da África do Sul, você vê ainda menos artistas negras e contemporâneas.” Em sua coleção, Kingston possui nomes fortes em ascensão no seu país, principalmente artistas com forte teor político, como a fotógrafa e ativista dos direitos LGBTQ, Zanele Muholi, a performer Donna Kukama e o coletivo feminista iQhiya. “Todos precisamos nos esforçar para apoiar artistas emergentes”, opina. “Se sou convidada a participar de exposições em grupo, a primeira pergunta que faço é se há artistas mulheres. Se a resposta é não, simplesmente não vou.”

Além de vir ao Brasil como compradora, Pulane Kingston participou também na quinta-feira, 12, de um debate sobre colecionismo ao lado do diretor da instituição londrina Delfina Foundation, Aaron Cezar, e com outra colecionadora, a norte-americana Betty Duker. Foi em sua primeira vinda ao Brasil, nos anos 2000, que Duker resolveu mudar o foco do seu acervo e investir em arte da América Latina. “Costumava colecionar arte contemporânea, o que comecei a fazer em 1965, há muito tempo. Um dia, acordei e não era mais contemporânea.”

Nos últimos 10 anos, Betty renovou a sua coleção ao lado do marido. O acervo conta com peças produzidas entre 1940 e 1990, com algumas exceções dos anos 1930 e final dos 1990. Entre os artistas estão neoconcretos como Hélio Oiticica e Lygia Clark. “Havia poucas coleções de arte latino-americana do século 20 nos EUA”, explica sobre o que a motivou. “Coleciono para mim, como um exercício intelectual, não para ter um museu privado.”

Assim como Kingston, o interesse de Duker converge para a arte política. “Viver com a arte me deu informações sobre a história do seu país e dos seus vizinhos”, analisa. “É muito difícil olhar para o abstracionismo geométrico, por exemplo, e não pensar que esta era uma forma dos artistas se expressarem por fora do radar dos censores.”

Esta será a quarta vez de Betty Duker no Brasil. Em suas andanças, colecionando arte da região, ela já percebe algumas diferenças em relação ao agrupamento de culturas diversas na América Latina. “Agora entendo, apesar de ter levado um bom tempo até entender, que os países latinos não são tão vizinhos e não gostam de ser colocados numa grande unidade”, relata. “Especialmente o Brasil, por falar português.”

Duker afirma que, desta vez, não vem ao País como compradora, mas não nega a possibilidade de deixar o Brasil com alguma nova aquisição. “Estou sempre procurando, mas agora tenho uma lista muito curta de artistas que estou interessada em comprar.” Apesar de ver um grande número de colecionadoras mulheres nesta edição da SP-Arte, ela não se surpreende. “Não é um fenômeno novo, talvez as pessoas não tenham prestado atenção”, opina a norte-americana, que lembra de suas compatriotas que colecionavam obras de impressionismo francês, como Potter Palmer, Gertrude Whitney ou a sra. Rockefeller.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.