Em uma colagem que o artista Sigmar Polke fez em 1975 para a 13.ª Bienal de São Paulo, está o recorte da cara de um macaco e os dizeres, em alemão: “Cada banana que como eu apoio a exploração da América Latina”. Irônica, a obra faz parte da série “Day by Day” (Dia a Dia), que, na época, Polke apenas apresentou em forma de um livro pequeno, com 800 exemplares distribuídos – e naquela Bienal, na verdade, o artista recebeu o Grande Prêmio de Pintura. Agora, tantos anos depois, as colagens, desenhos e gravuras originais de “Day by Day” retornam a São Paulo, na mostra que o Masp inaugura hoje e na qual exibe a trajetória de Polke, um dos grandes nomes da Alemanha, por meio de sua produção gráfica.

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Sigmar Polke morreu no ano passado, aos 69 anos, vítima de câncer. É tão respeitado quanto seus conterrâneos Gerhard Richter e Georg Baselitz. Na década de 1960, justamente ao lado de Richter, e de Konrad Fischer, criou, na Alemanha dividida entre ocidental e oriental, o movimento Realismo Capitalista, uma “brincadeira irônica” em contraposição ao Realismo Socialista da extinta União Soviética. “Naquele momento pós-Guerra, era perigo falar de uma identidade alemã, mas Polke era jovem, estudante, estava se posicionando”, diz Tereza de Arruda, curadora da exposição.

A mostra “Sigmar Polke – Realismo Capitalista e Outras Histórias Ilustradas” perpassa a produção gráfica integral realizada por ele entre 1963 e 2009. Para o artista, sua criação gráfica tinha o mesmo status de sua produção pictórica, que o consagrou. Do Realismo Capitalista dos anos 60 fica, ao longo da trajetória de Polke, a apropriação crítica de imagens relacionadas à cultura de massa quando a arte pop estava em voga. Mas é melhor dizer que mais do que ser um antipop subversivo, a marca do artista seja, na verdade, a experimentação incessante de técnicas e de materiais aliada à construção e desconstrução da imagem. “O caráter político de sua obra é sutil”, diz a curadora.

O consagrado Polke, que em 1986 recebeu o Leão de Ouro na 42.ª Bienal de Veneza e é um dos destaques, este ano, da atual 54.ª edição da mostra italiana, nunca viveu fora da Alemanha. Nasceu em 1941 na região alemã da Silésia, mas muito cedo se mudou com a família para Düsseldorf – também foi professor na Academia de Belas Artes de Hamburgo. “Em sua obra existe uma narrativa que acompanha a evolução social e política da Alemanha”, afirma Tereza de Arruda.

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A mostra é formada por 250 obras, grande parte delas pertencente ao colecionador Axel Ciesielski – as 20 matrizes originais da série “Day by Day”, de 1975, exibidas juntas, são de outro colecionador privado, anônimo (nem na Bienal de São Paulo daquele ano elas foram exibidas no Brasil). “É a primeira vez que esse conjunto sai da Alemanha”, conta Tereza. Ciesielski adquiriu no ano passado, por 120 mil euros, a última obra gráfica que faltava para ter a coleção integral de Polke, “Amigas II”, de 67. Depois, tudo volta para o país do artista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Sigmar Polke – Masp (Av. Paulista, 1.578). Tel. (011) 3251-5644. 11h/18h (5ª, 11h/ 20h; fecha 2ª). R$ 15 (3ª grátis). Até 29/1. Abertura hoje, 19h30.

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