O cineasta Paulo Thiago, de 59 anos, é uma espécie de testemunha ocular da bossa nova – adolescente, viu o movimento nascer no Rio de Janeiro e, tão empolgado com o violão de João Gilberto, decidiu aprender a tocar o instrumento. Matriculou-se, assim, na academia de Roberto Menescal e lá manteve um contato mais próximo com outros músicos. O suficiente para se sentir à vontade para realizar o documentário Coisa mais Linda, que estréia amanhã (2).
"Na verdade, agi como um DJ, separando depoimentos e apresentações musicais essenciais", disse Thiago, que convenceu Menescal e Carlos Lyra a ‘atuarem’ no documentário: eles conduzem a narrativa, apresentando nomes e locais que foram decisivos na história da bossa nova. "Buscamos uma sofisticação descontraída, que fugisse do historicismo", conta Lyra. "E ainda mostramos o perfeccionismo de artistas como João Gilberto, típico de um erudito", completa Menescal.
O encontro dos músicos com o cineasta, presenciado pelo Grupo Estado, renderia outro documentário – além de discutirem momentos do filme, relembram novas histórias. Como a que envolve a música Lobo Bobo, uma das primeiras do movimento. "É uma canção pioneira, pois trata de uma transa de forma delicada", conta Menescal, apontando ainda para a importância das mulheres na bossa nova. "Silvinha Telles, por exemplo, ao se apresentar sentada um banquinho, causava um furor semelhante ao provocado por Leila Diniz anos depois."
Paulo Thiago lembra também da mudança de comportamento provocado pelo movimento. "Houve alterações nos costumes, mas em nenhum momento a bossa nova é encarada como ideologia", observa o diretor que, na conversa com os músicos, lembrou ainda da sofisticação da harmonia das músicas, daí o seu sucesso. "A cena de Tom Jobim com Gerry Mulligan, por exemplo, é uma verdadeira aula sobre jazz e bossa nova", afirma Lyra.
