A comparação é inevitável. Código 46, de Michael Winterbottom, lembra, sim, Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola. O filme do mesmo diretor de A Festa Nunca Termina – surpresa agradável do Festival do Rio ano passado – não escapa de analogias desde que estreou nesta edição do evento. A principal diferença é: quem gostou do trabalho da filha do mestre Francis Ford Coppola provavelmente não acha Código essa Coca-Cola toda e, para quem aquele romancinho entre Scarlet Johansson e Bill Murray foi enfadonho, a história futurista de Winterbottom agrada.
Já no último dia do Festival do Rio, amanhã, Winterbottom volta com uma história para lá de picante. Nove Canções – uma adaptação do livro Plataforma de Michel Houellebecq que causou polêmica no Festival de San Sebastian uma semana atrás – traz cenas reais de sexo. A história é contada a partir do relacionamento de um jovem casal numa Londres atual. As cenas mostram seus encontros de alto teor explícito alternadas com trechos de apresentações ao vivo de grupos como o Primal Scream, Black Rebel Motorcycle Club e Franz Ferdinand, entre outros. Ou seja, se em A Festa Nunca Termina o diretor mostra a música de Manchester dos anos 80, nesse filme ele apresenta o que há mais recente no cenário do rock londrino.
O filme – que já está sendo bastante procurado pelos cinéfilos e fãs do diretor inglês – será uma surpresa para o público já que, até agora, a cópia não chegou para a imprensa brasileira poder dar opinião. O risco é seu encarar essa obra que chegou a ser chamada de “pornográfica” pela crítica lá de fora. Coisa que Winterbottom detestou.
Quanto à Código 46, explica-se toda a comparação que vem ganhando neste festival: o casal Scarlet/Bill de Encontros e Desencontros parece ter reencarnado em Tim Robbins/ Samantha Morton por vários motivos, que vão desde o retrato da solidão dos dois, do cenário oriental (Encontros se passa na, por si só, futurista Tóquio, e Código numa Xangai de um futuro não muito distante) e pela história do amor espontâneo e sutil que nasce entre eles.
Jornalistas compararam o filme ao Blade Runner. E é verdade. Código 46 fala de engenharia genética, de seres humanos com DNAs perfeitos e um mundo organizado em metrópoles onde só entram pessoas autorizadas. Do lado de fora (o “afuera”) moram os excluídos, num grande caos miserável. Dentro, só os de saúde perfeita. A atmosfera futurista fica por conta também da língua falada pelos personagens. O inglês é globalizado, recheado de expressões em espanhol, português, francês e outros idiomas.