Muitos personagens se tornam heróis, mas poucos deles se transformam em mitos. Deste segundo grupo, certamente o arqueiro britânico Robin Hood tem o seu lugar de direito.

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Seu legado, que teria se originado por volta do século XIII, sobrevive até os dias de hoje. Simpatizando ou não com o “príncipe dos ladrões”, como também é conhecido, não dá para negar que suas histórias sempre fascinaram a imaginação das pessoas, seja por seus ideais de justiça ou pela sua benevolência aos mais necessitados, ainda que seus métodos sejam questionados.

Se para os homens Hood é sinônimo de astúcia, força e honra, para as mulheres o anti-herói tem uma imagem romântica e de um cavalheiro, sempre pronto para salvar as damas em perigo.

Robin Hood já esteve nas telas dos cinemas em diversas oportunidades. De desenho animado a comédia, passando por filmes de ação e até recebendo uma versão nacional com o trapalhão Renato Aragão, a história do vigilante de Sherwood vem sendo mostrada desde 1922.

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Diante de tantas versões cinematográficas, é de se questionar: há espaço para mais um filme? A resposta é tão simples quanto eloquente: sim, especialmente quando é lançado um novo olhar sobre essa instigante história.

Para evitar fazer mais um longa mostrando a eterna rivalidade entre Hood e o xerife de Nottingham, o premiado diretor inglês Ridley Scott (Blade runner, Alien) optou em mostrar uma versão alternativa para a gênese de Hood, algo parecido com que o diretor Christopher Nolan fez em Batman begins.

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Em vez do nobre Robin de Loxley, o anti-herói agora é Robin Longstride, filho de um pedreiro, exímio na luta com espadas e ainda mais letal com o arco e flecha, que vai participar das Cruzadas (guerra entre cristãos e muçulmanos pelo controle de Jerusalém) ao lado do rei Ricardo Coração de Leão.

Ao voltar para Inglaterra, Hood encontra o país em uma situação miserável, graças aos excessos cometidos pelo rei João, irmão de Coração de Leão, que assumiu o trono.

Neste cenário caótico e de violência, uma conspiração para derrubar a coroa inglesa é deflagrada, obrigando o povo oprimido a conjurar uma aliança com o opressor rei em nome de um bem maior: a soberania de sua terra.

Apostando em uma paleta de cores que remete ao cinza, cor tipicamente britânica, com a associação de planos-sequências, fotografias exuberantes e batalhas bem coreografadas (ainda que aposte mais em um longa introspectivo a de ação), o diretor cria um clima sempre tenso ao longo dos 140 minutos do filme justamente para causar no espectador o impacto da situação vivida pelos personagens.

Para auxiliar nesta corajosa jornada, Scott conta mais uma vez com o talento do ator neozelandês Russel Crowe, com quem trabalhou em filmes como Gladiador, Gângster americano, entre outros, no papel do protagonista e da australiana Cate Blanchett como Marion Loxley.

Se originalmente Hood sempre fora visto como um personagem carregado na ironia, tal qual um Homem-aranha, a versão trabalhada por Crowe é mais sisuda, possivelmente por causa dos duros anos em que viveu, ainda que sempre haja um espaço para destilar sua malícia.

A Marion de Blanchett deixou de lado a nobreza e a boa vida na corte para pôr a mão na massa e, quando é preciso, empunhar uma espada, sendo a encarnação mais forte da personagem.

Destacam-se ainda o onipresente Mark Strong, como o dissimulado vilão Godfrey, o veterano William Hurt como o conselheiro William Marshall, e Oscar Isaac no papel do arrogante rei João.

Muito mais do que um remake ou uma simples releitura, Robin Hood de Ridley Scott mostra que mesmo uma história conhecida pode render algo relativamente novo e até mesmo surpreendente, desde que caia em mãos competentes para, se tocar esta empreitada.