Cleópatra rouba a cena

São Paulo

  – Alain Chabat desfia os números de seu filme numa entrevista por telefone, de Paris – Asterix e Obelix: Missão Cleópatra, que estréia hoje em cem cinemas de todo o País, é a produção mais cara do cinema na França. Custou 50 milhões de euros, quase US$ 50 milhões. A contrapartida é que com 14,5 milhões de espectadores, é o filme francês recordista de público de todos os tempos.

Por conta disso, Chabat está convencido de que o produtor Claude Bérri não deixará de fazer Asterix 3, mas garante que não estará envolvido no projeto. “Claude Zidi também só quis dirigir o primeiro”, esclarece. E acrescenta: “É bom que os diretores mudem; isso garante uma diversidade de enfoques que torna os filmes mais atraentes”.

Quando Bérri lhe propôs este Asterix 2, motivado pelo que já era o extraordinário sucesso do primeiro filme, de Claude Zidi – 8 milhões de espectadores -, Chabat não vacilou. Ele próprio desenhista na juventude, fã dos personagens criados por Uderzo e Goscinny, disse logo que sim. Sua dificuldade foi escolher a história que queria adaptar. Nunca pensou na possibilidade de criar uma história original, mesclando elementos de vários álbuns de Uderzo e Goscinny. Mas também não se decidia por um só. Gostava de vários. Foi o próprio produtor quem o ajudou na escolha: “Claude (Bérri) me fez ver que o álbum com Cleópatra era o mais cinematográfico de todos; e, depois, eu também fazia questão de uma história com piratas”.

Chabat adora as aventuras de pirataria. Discorre sobre as velhas aventuras de Errol Flynn com o diretor Michael Curtiz. Gosta até de Piratas, que, certamente, está longe de ser o melhor filme de Roman Polanski. Ele nunca duvidou que Christian Clavier e Gérard Depardieu deveriam continuar à frente do elenco como Asterix e Obelix. Mas a escolha da história o orientou num rumo bem particular: o verdadeiro protagonista da história que ele conta é outro. A trama de Asterix e Obelix: Missão Cleópatra constrói-se em torno de Numérobis, o personagem do arquiteto que constrói o palácio que Júlio César quer ofertar à rainha do Nilo. Entra em cena Jamel Debbouze. É desconhecido no Brasil, mas um stand-up comic muito apreciado na França. “Jamel é muito engraçado; é um catalisador, como os maiores cômicos, um Buster Keaton, por exemplo; tudo ocorre ao redor dele e Jamel se mantém sério, com aquela cara de drama”.

Até por Debbouze/Numérobis, o segundo filme é melhor e mais divertido. O personagem mudou em relação ao álbum. Deixou de ser um arquiteto que constrói tudo torto, para se transformar num excêntrico com uma visão muito especial da arte da construção. Chabal também multiplicou as mulheres da trama. Asterix apaixona-se por uma cortesã egípcia e o diretor lembra o que dizia o próprio Goscinny: “Há poucas mulheres nas nossas histórias, mas quando aparece uma é logo Cleópatra”. O diretor reservou-se um papel – o de César. “Foi para ter o maior número de cenas com Monica”, diz, acentuando o “A” final.

Monicá é a Bellucci, a esplendorosa Malena de Giuseppe Tornatore – e que ainda pode ser vista, na 26.ª Mostra BR de Cinema, na revoltante cena de estupro de Irréversible, o filme de Gaspar Noè que integra a programação. Monica talvez seja hoje a mulher mais bela do mundo. By-bye, Liz Taylor. Há outra Cleópatra pronta para entrar no imaginário do público brasileiro. “Monicá não é só linda; é sexy, inteligente, carinhosa, feminina, a mulher do sonho de todo homem”, resume Chabat. O repórter pergunta se esse entusiasmo todo é só profissional e Chabat responde: “Vincent esteve muitas vezes no set”. Vincent é o Cassel, de O Ódio, marido da estrela e seu partner em “Irréversible”.

Desafio

Qual a maior dificuldade experimentada pelo diretor? “Um filme dessa dimensão sempre coloca muitos problemas, desde o dinheiro até os desafios do dia-a-dia no set”. Mas ele acha que o grande desafio foi mesmo expressar o estilo de Goscinny e Uderzo, os diálogos de um com o visual do outro. Embora fã dos quadrinhos, ele desconfia um pouco dessa interrelação que algumas pessoas vêem entre as linguagens do cinema e dos quadrinhos. Procurou, muitas vezes, usar as tiras como storyboard, mas acha que, na maior parte do tempo, há o problema decorrente de uma diferença fundamental – o movimento.

“Pode-se tentar captar o espírito, mas as linguagens são diferentes e quem disser que são as mesmas estará equivocado”, garante. Seu objetivo foi destacar o que existe de mais cotidiano nos personagens e nas situações que vivem. Acredita que é essa sua contribuição à série, que poderá até mudar, com a entrada em cena de um terceiro cineasta, para fazer o próximo filme da série. Conta que teve a assessoria de egiptólogos e chegou até a pensar em ter diálogos em egípcio antigo. “Seria divertido e, ao mesmo tempo, original. Imagino o desconcerto do público, mas dessa maneira seria difícil alcançar um público tão imenso”.

A mais famosa rainha

A mais famosa Cleópatra do cinema é Elizabeth Taylor, que em fevereiro fez 70 anos de vida. Com a megaprodução Cleópatra, que a Fox transpõe em DVD.

A célebre atriz britânica não apenas ganhou fama mundial e recebeu a então exorbitante soma de um milhão de dólares, mas também iniciou a escandalosa história de amor com o co-protagonista Richard Burton. Ambos eram casados.

Antes e depois de Cleópatra, Liz Taylor se consagrou como uma mulher bela, rica e privilegiada, ao mesmo tempo em que transmitia uma imagem de mulher solitária em busca desesperada de afeto e segurança.

Quando começou a decadência de sua carreira artística, os aspectos mundanos e sentimentais de sua vida privada passaram para o primeiro plano.

Dessa forma, seus oito casamentos, com seus respectivos divórcios, seus romances, tratamento de beleza – sobre os quais chegou a escrever um livro – e as cirurgias plásticas, o abuso de pílulas, bebidas alcoólicas e doenças de Liz sempre foram notícia nos meios de comunicação.

Mas diferentemente de outras atrizes, como Judy Garland e Marilyn Monroe, que foram derrotadas pelo alcoolismo e a neurose, a atriz sempre conseguiu superar, se bem que com dificuldade, os momentos dramáticos de sua vida e retomar suas múltiplas atividades.

Diva desde criança, Elizabeth Taylor estreou em 1943 no filme Lawsie, ao qual se seguiram outros lacrimosos dramas domésticos, até que ela se transformasse na sensual e elegante protagonista de filmes de Vincent Minelli e de Um lugar ao sol e Assim caminha a humanidade, onde ela atua ao lado do igualmente mítico James Dean, morto em um acidente automobilístico antes de concluir as filmagens, Liz protagonizou papéis dramáticos onde, com freqüência, busca desesperadamente um companheiro dominante que nem sempre consegue encontrar.

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