Mais que caprichar na cara de malvada, ser vilã de novela das 9 exige talento para organizar a agenda. “O tempo todo você marca e desmarca tudo. Quando você é protagonista ou antagonista, não tem vida, não vai ao médico. Não dá. Faço aulas nas horas mais esdrúxulas. Faço balé às 22h30, às vezes, sapateado às 7h45. Tenho muita força de vontade e perseverança. Dá vontade de não ir quando gravo até tarde”, conta Cláudia Raia, que, na segunda tentativa de conversar com a reportagem, teve de correr para o Projac ao ser avisada pela produção de Salve Jorge que sua cena na pele de Lívia Marini havia mudado de horário.
Na reta final da trama, prevista para acabar em 17 de maio, a atriz de 46 anos mobiliza todos à sua volta para executar as tarefas do dia a dia. “São professoras que trabalham comigo há muito tempo e sabem da vida que tenho. A academia de dança fica a 50 metros da minha casa. Fico com a chave. Os filhos sabem que é assim.”
Nos poucos momentos em que circula pelo Rio, a paulista tem afugentado o público. “É horrível. Quando chego, as pessoas levam susto, um sobressalto. É medo mesmo. Elas dão parabéns pelo trabalho, mas falam que estão com ódio. Uma vez, entrei no elevador e uma mulher perguntou se eu não tinha medo de levar um tapa na cara. Pensei: ‘Ai, meu pai, vai ser agora’. Falei que era tudo mentira, que sou atriz”, relembra Cláudia, que também ouve piadas sobre a injeção letal que a personagem costuma dar em quem a atrapalha. “Onde passo, perguntam se não tenho seringa na bolsa e dizem: ‘Não me leve para a Turquia’.”
Alvo de montagens nas redes sociais por causa da vilã, a atriz garante que se diverte. “Achei hilário. A última foi uma foto minha ao telefone, dizendo ‘Russo, desiste das garotas. Vamos importar tomates’. Também leio o blog Morri de Sunga Branca, que brinca com a novela o tempo todo. Quando há humor, quer dizer que está mexendo com as pessoas”, opina a atriz, citando o blog que virou hit pelas críticas à novela com animações e fotos.
Semana passada, ela surgiu em uma imagem em que dá uma injeção no rosto do filho, Enzo, de 16 anos. “Ganhei de um amigo, aquilo é uma caneta. Mostrei para as crianças e o Enzo falou para tirar uma foto.”
Cláudia jura não saber o final de Lívia. “Pelos textos que recebi, ainda faltam 13 capítulos. Dos que li, ela ainda não se deu mal”, revela a atriz, que sugere um castigo para a vilã. “Ela devia levar uma surra de todas as presas na cadeia. E, depois de muito machucada, receber uma sentença perpétua. Só a cadeia é pouco. No Brasil, a gente não tem pena maior que essa. As pessoas são pegas e, em dois anos, são soltas.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.