Cláudia Alencar arriscou. Depois de 19 anos trabalhando na Globo, a atriz embarcou no projeto de Prova de Amor, da Record. Agora, não tem dúvidas que fez a coisa certa. E constata isso tanto na audiência da novela quanto na atual fase da emissora. Mas acha que acertou, acima de tudo, na personagem que faz na trama, a batalhadora Teresa Avelar. "Ela é um exemplo de mulher. Trabalhadora, ‘mãezona’ e uma mulher de garra. Ela é a típica brasileira", derrete-se.
Apesar de dar à sua personagem um jeito otimista e esperançoso com o qual se identifica bastante, Cláudia reconhece que está se envolvendo com o sofrimento de Teresa, o seqüestro de sua neta Nininha, de Júlia Maggesse e a condenação injusta de seu filho Daniel, personagem de Marcelo Serrado. "Esse problema é mais comum do que a gente pensa. A violência e o medo se tornaram banais. Socialmente o Brasil está afundado", avalia. Por outro lado, Cláudia está feliz da vida com o recente triângulo amoroso de sua personagem e seu ex-marido Cadu, vivido por Raul Gazola, e o Dr. Hélio, papel de Roberto Pirillo. "É a primeira vez que eu faço um papel onde sou disputada. Estou achando ótimo essa coisa de Dona Flor e seus dois maridos", diverte-se.
P – Como você vê a iniciativa de abordar questões sociais na novela?
R – É bom a população saber que governo não faz nada e que a justiça é caduca e burocrática. Nesse sentido, a novela está fazendo um papel de esclarecimento. As pessoas até sabiam desse problema de desaparecimento de crianças. Mas não tinham real dimensão da incidência, de como acontece, o porquê e o que acontece com essas crianças, afinal. É uma realidade que a tevê mostrava pouco.
P – Quais características da Teresa geram maior identificação com o público de Prova de Amor?
R – A Teresa é uma personagem inspirada na típica mulher brasileira. Foi abandonada pelo marido, criou os três filhos sozinha e se mantém com alegria e sem ser amargurada. Ela tem muita coragem, é trabalhadora e não se faz de vítima. É uma heroína. No lugar dela eu, a Cláudia, não suportaria. Ela sofre muito com o seqüestro da neta, a prisão injusta do filho, a perseguição de sua família. A principal inspiração foi encarar a realidade da maioria das mulheres desse país.
P – Com relação ao seqüestro da neta e à prisão do filho, como tem sido a reação das pessoas?
R – As pessoas são muito solidárias com a realidade da personagem. Muita gente me pára e fala que vive ou já viveu isso, ou conhece alguém que está passando por esse sofrimento. Fico impressionada de como essa tragédia, infelizmente, faz parte da realidade de muita gente nesse país.
P – O que mais a cativou no convite da Record a ponto de deixar a Globo depois de tanto tempo?
R – A Teresa é diferente de tudo que eu já fiz. Além de estar envolvida nesse contexto dos problemas sociais, agora ela está vivendo um triângulo amoroso. Eu sempre fiz personagens que disputavam um homem com outra mulher. Viver o outro lado está sendo ótimo. Isso quebra o tabu de que uma mulher, quando é disputada por dois homens, não é séria. Isso também mostra um pouco o lado frágil dela, que encara o conflito entre a segurança e o desejo. Nisso, ela também se identifica com a realidade das mulheres. Ela é experiente, com filhos crescidos, que se vê diante de um romance moderno. Isso dá um novo fôlego de vida.
P – Você está completando 30 anos de carreira. O que é o melhor e o pior da sua profissão?
R – O melhor é eu conseguir sobreviver eticamente fazendo o que eu tenho paixão. O pior é a instabilidade, não só brasileira, mas da carreira como um todo. Por outro lado, eu poderia ter tido mais sucesso, ter sido rica e mais famosa. Mas a minha opção foi ter meus filhos e ter tempo para outras atividades, como pintura e ioga. Nessa fase mais recente, nessa nova emissora, eu senti muita diferença na postura dos diretores diante dos artistas. Além disso, a equipe está totalmente integrada a favor do sucesso desse projeto. As pessoas são francas e amorosas. E eu embarquei totalmente..