O som da natureza, delicado e lento, caipira de raiz, é o oposto do Heavy Metal, enérgico, agressivo, urbano. Os dois estilos estão unidos no preconceito. O caipira é visto como antigo, e o metaleiro como rude. Ambos, para muitos pseudo-intelectuais, não são capazes de produzir melodias harmoniosas e letras inteligentes.

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Uma simbiose entre os dois provou que o nível de técnica da viola e da guitarra são muito superiores à crítica sem embasamento. Ricardo Vignini e Zé Helder gravaram clássicos do rock que marcaram gerações com apenas duas violas caipiras e pedais de distorção.

O CD Moda de rock – Viola extrema, ainda nem foi lançado oficialmente (os primeiros shows devem começar em março) e já teve a primeira tiragem completamente vendida. O material foi remasterizado no estúdio Abbey Road, em Londres – local onde os Beatles gravaram a maior parte de seu trabalho.

O público brasileiro ficou fascinado com a representação caipira do som urbano. “Passei minha infância e adolescência ouvindo rock. Quando escutei a Master of Puppets do Metallica em um show ao vivo da banda em São Paulo, decidi que era isso que queria fazer na minha vida. Só não imaginei que seria na viola”, brinca Ricardo.

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Ele garante que precisou se trancar no quarto por vários dias para conseguir reproduzir os solos de guitarra da Mr. Crowley, de Ozzy Osbourne, e da música Hangar 18, do Megadeth. “Deu para descobrir o quanto estas bandas tem uma estrutura musical interessante, ao contrário do que pensam algumas pessoas preconceituosas que costumam achar que rock é só barulho. Isso explica por que essas bandas fizeram tanto sucesso”, ressalta.

A reação do público foi tão surpreendente quanto a dos músicos. Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, publicou em seu blog a admiração pela versão de Kaiowas na viola, que ficou ainda mais tribal do que a original e conta com a participação do grupo de sapateado de catira de Edson Fontes. A catira é uma dança tropeira, semelhante ao Fandango paranaense. Também participou da gravação do CD Renato Caetano, na música Aqualung, da banda de rock progressivo Jetro Trull.

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“Tive banda de rock, mas me enchi da indústria atual. É tudo muito maquiado, muito careta. O universo da viola é muito mais louco. Tem uma herança cultural muito grande”, lembra Ricardo.

Melodias

Talvez uma das músicas mais impressionantes do CD seja a regravação da Aces high, do Iron Maiden. A dupla conseguiu cumprir integralmente a melodia, incluindo o solo complexo de Dave Murray e Adrian Smith. Não deixaram passar nem o mais alto tom de Bruce Dickinson no último refrão.

Tão fantástica quanto esta foi a versão caipira da Master of puppets, que ganhou um molejo de pagode de viola indescritível. A nova versão conseguiu ligar todas as quebras de ritmo que marcam a melodia original – o pesadelo de qualquer aluno de guitarra.

Em músicas como a Norwegian Wood, dos Beatles, e Kashmir, de Led Zeppelin, Ricardo utilizou uma viola de cabaça que soa como uma cítara indiana. As duas músicas ficaram com uma qualidade arrepiante, gerando até uma leve dúvida na escolha entre a original e a caipira. “Jimmy Page para mim é um violeiro guitarrista. O Led Zeppelin utilizou muita afinação aberta, muito comum no universo da música caipira”, conta Ricardo.

O CD ainda conta com Smells like teen spirit, do Nirvana, In the flesh, do Pink Floyd, e May this be love, de Jimi Hendrix. Já existe a previsão de gravar um novo CD. “Daria para fazer um disco inteiro só de Iron Maiden ou Metallica”, anuncia o violeiro, que não vê a hora de tocar em Curitiba. “Tenho muitos amigos por aí”, garante.

O público também não vê a hora de assisti-los ao vivo. Enquanto a segunda tiragem d,o CD não sai, as músicas podem ser ouvidas no site www.modaderock.com.br.