![]() |
Ator é considerado um dos ícones do cinema nacional. |
(AE) – As comédias de Mazzaropi eram consideradas pela elite intelectual dos anos 50s e 60s o produto menos importante do cinema brasileiro. Meio século mais tarde, o ator é eleito por algumas enquetes e pesquisas o maior comediante brasileiro e ainda se mantém como um dos campeões de bilheteria do cinema nacional. Para muita gente, inclusive da elite intelectual, os filmes de Mazzaropi estão virando clássicos.
É por conta da quebra de muitos desses preconceitos – e para a alegria dos cinéfilos colecionadores – que estão chegando ao mercado algumas das melhores comédias de Mazzaropi, todas remasterizadas.
Três títulos de Mazzaropi, ainda inéditos em DVD no Brasil, já estão à venda. São eles: O Fuzileiro do Amor (1956), O Noivo da Girafa (1957) e Chico Fumaça (1958). A Dynafilmes, que está lançando os títulos, também leva ao mercado algumas das maiores bilheterias de Dercy Gonçalves produzidas após a empreitada megalomaníaca chamada Vera Cruz. Os títulos remasterizados da atriz são Uma Certa Lucrécia (1957), Dona Violante Miranda (1960), Minervina Vem Aí (1959) e Cala a boca, Etelvina (1960).
Os DVDs podem ser encontrados na maioria das locadoras e lojas. A desvantagem é que há poucos (ou nenhum) extras da maioria deles, em parte pela má conservação do nosso arquivo cinematográfico ao longo dos anos. De qualquer forma, se trata de uma iniciativa que eterniza nos disquinhos, de uma vez por todas, as produções que marcaram época no Brasil.
A criação do selo Dynafilmes aconteceu no começo deste ano e promete lançar 70 filmes nos próximos dois anos, uma iniciativa que deverá consumir R$ 3 milhões. Infelizmente, a empresa ainda não tem previsão de próximos lançamentos no semestre que vem, talvez porque a reação do mercado não tenha sido tão entusiasmada.
O projeto pode ficar reduzido, portanto, a apenas 14 filmes já lançados. De qualquer forma, a iniciativa animou alguns grandes nomes do cinema nacional. ?Finalmente o cinema brasileiro passou a ter crédito. Na minha época, nem de graça as pessoas queriam ver um filme brasileiro. O público evoluiu e hoje compra DVDs para guardar os longas que mais emocionam?, declarou, no lançamento do selo, o ator e diretor Anselmo Duarte.
Foi um título do próprio diretor que inaugurou a coleção. O Pagador de Promessas (1962) é, até hoje, um dos mais bem-sucedidos filmes nacionais. Concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas não levou. Em compensação, levou a Palma de Ouro em Cannes, ajudado em parte pelo bem-sucedido desempenho anterior de Orfeu Negro, produção entre Brasil, França e Itália que levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o Globo de Ouro e a Palma de Ouro.
Humor sem apelação
As comédias de Mazzaropi e Dercy Gonçalves seguiam a onda de sucesso dos lançamentos da Atlântida, nos anos 40s. A lógica da empresa – que pertenceu ao grupo Severiano Ribeiro – era produzir comédias rápidas e baratas, as tais chanchadas, gênero detestado pelo grupo do Cinema Novo. Muitas delas parodiavam filmes americanos. Enquanto a carioca Atlântida resolvia a questão exibidor/distribuidor, pois eram do mesmo dono, a Vera Cruz de São Bernardo do Campo – que produziu alguns filmes do Mazzaropi – achava que o brasileiro não sabia fazer cinema e, portanto, importaram equipe e equipamentos de fora. Gastaram uma fortuna, não pensaram na distribuição e foram à falência em 1954 deixando seu dono, Franco Zampari, pobre até a morte.
Os frutos da chanchada e da comédia paulista da metade do século fizeram grande sucesso ao usar o humor de forma ingênua, sem apelação e grosserias. Cala a Boca, Etelvina, por exemplo, foi um dos maiores sucessos de Dercy Gonçalves, ao viver uma empregada que assume o lugar da patroa. Em Chico Fumaça, de Mazzaropi, uma das maiores bilheterias do comediante, ele vivia um caipira que passa a vida vendo o trem passar no interior e, certo dia, evita um acidente e vira herói nacional.
Há quase 50 anos, Mazzaropi abordava a questão da celebridade e o prejuízo que ela traz à natureza das pessoas. Ou seja, antes de ressaltar a originalidade de muito autor de novela e diretor de cinema, é melhor olhar com mais carinho para o que o Brasil já criou e tenta, hoje, conservar com muito custo.
