Em 23 de setembro de 1973 morria Pablo Neruda, em Santiago, onze dias após a queda do governo do presidente chileno Salvador Allende. O poeta morreu consagrado por Canto Geral, obra traduzida por Paulo Mendes Campos e agora relançada pela Editora Bertrand Brasil.
De caráter enciclopédico, o livro com 602 páginas reúne os mais variados temas, gêneros e técnicas, dividindo-se em 15 seções e 231 poemas. O livro nasceu marcado pelo sofrimento, tendo o poeta testemunhado, por intermédio dele, o seu grande amor tanto pelo Chile e por seu povo, quanto pelos povos oprimidos da América Latina. É uma obra que une o combate e a ternura.
Canto Geral tornou-se um clássico não só da literatura hispano-americana mas também da poesia universal do século XX, chamado pelo próprio Neruda, em Confesso Que Vivi, sua obra memorialística, de “meu livro mais importante”.
Os estudiosos do poeta apontam Canto Geral como uma obra atípica e que representa uma reviravolta na poética de Neruda. O livro foi escrito em circunstâncias adversas, quando, por ser membro do Partido Comunista, sofria forte perseguição pela polícia do presidente chileno González Videla, sendo obrigado a refugiar-se no exterior. Lançado em 1950, o livro teve duas primeiras edições quase idênticas: uma oficial e pública, no México, e outra, clandestina, no Chile.
Além de Canto Geral, a Bertrand Brasil leva às livrarias outra obra exilada em sua época: A Colméia, de Camilo José Cela, escritor espanhol falecido em janeiro de 2001, aos 85 anos. Com problemas de censura na Espanha, Cela publicou o livro em Buenos Aires, em 1951.
Cela assemelha-se a um fotógrafo, que sai à rua com sua câmera na mão para retratar tudo que vê, apresentando assim a vida miserável de um grupo de pessoas na Madri dos anos imediatamente posteriores à guerra civil espanhola. São mais de trezentos personagens, muitos deles só nomeados, que se entrecruzam em três dias de dezembro por dois ou três bairros da cidade. Os temas abordados no romance são a humilhação, a pobreza, o aborrecimento, a repetição e a ameaça, o que dá um colorido todo especial àquele momento espanhol por volta de 1943.
A Colméia é uma obra definitiva em que o leitor descobre em cada página um novo matiz para completar esse espectro narrativo que surge da decomposição da realidade causada não só pela miséria, como pela fome do pós-guerra, na visão de Camilo José Cela.