O que diria Kafka se assistisse a adaptação que o dramaturgo Edson Bueno fez para o teatro de uma de suas maiores histórias? O texto é famoso, Metamorfose, a novela mais conhecida de Kafka, que influenciou escritores do mundo todo a partir da metade do século XX. É difícil saber o que o escritor checo (1883 1924) diria; assim como seu livro fala por si próprio, a adaptação de Bueno o faz no palco. Metamorphosis, dirigida e adaptada por Edson Bueno, fez sucesso no Festival 2006 e também esteve no Festival de 2005, além de realizar curtas temporadas durante o ano com grande aceitação do público. A peça concorre ao Troféu Gralha Azul de Curitiba, amanhã, nas categorias: melhor espetáculo, direção, ator, atriz coadjuvante, maquiagem e sonoplastia.
O senso de humor é trágico, o que era impossível se torna realidade. Ao contar a história de um caixeiro viajante que quando acorda para mais uma jornada de trabalho se vê metamorfoseado em uma barata, o ataque às instituições e o modelo burocrático em que vivem as sociedades contemporâneas se torna evidente. Gregor Samsa é o protagonista da história. Um jovem que vive cansado com a puxada rotina de viagens que nunca acabam. Apesar da juventude, ele é a única fonte de sustento de uma família de quatro pessoas. O cenário da peça, assim como no ambiente do livro, é a casa da família Samsa. A diferença é que no palco não existe uma porta sequer que divida quarto e sala.
Para dar vida a uma enorme barata, o grupo optou pela maquiagem e expressão corporal, permitindo expressar a agonia de Gregor, que não pode nem sequer ficar de pé.
No palco, os atores Elder Gattely, Pagu Leal, Adriana Seiffert, Luiz Carlos Pazello, Eberson Galiotto, Rosangela Craveiro e Angelo Cruz representam Gregor, seu pai, sua mãe, a irmã, a empregada, o gerente de Gregor e dois narradores que ajudam a marcar o tempo dos diálogos. O ritmo é bem marcado e os diálogos são agressivos. Após se tornar uma barata nojenta, como a empregada se refere a Gregor, sua família vai lhe abandonando e se mostra enraivecida pelo jovem não poder mais sustentar a todos, dessa forma, não tendo utilidade alguma para suas vidas.
