Nesta sexta-feira (28), o icônico “Strangeways, here we come” dos britânicos do The Smiths completa 25 anos. Esperado pelos fãs e pela crítica, o álbum, na verdade, chegava às lojas após o fim da banda, anunciado alguns dias antes, porém, isso não fez com que o culto sobre o disco e sobre o grupo diminuísse, ao contrário, esse último trabalho só solidificou a aura que permeia Morrissey, voz e letras, Johnny Marr, guitarras, Andy Rourke, baixo, e Mike Joyce, bateria.
Com um timbre diferente do anterior, “The Queen is dead”, considerado a obra-prima do quarteto, Marr passa a usar mais os violões e cria arranjos mais intrincados, como “Girlfriend in a coma”, “Unhappy birthday” ou “Stop Me If You Think You’ve Heard This One Before”. Já Morrissey não deixa por menos e transforma em poesia a pungência de seus dias. Prova disso são as belíssimas “Last night I dreamt that somebody loved me“ e “I Won’t Share You” .
Apesar do clima tenso no estúdio, os garotos de Manchester souberam execrar as diferenças e criar um material primoroso, tanto que “Strangeways”, que é o nome de um bairro na cidade e faz um trocadilho com os rumos do grupo, é considerado pela banda como sendo o melhor trabalho do grupo. “É uma pena não ter feito turnê desse disco”, afirmou Rourke, em sua passagem por Curitiba, em 2008.
Esbanjando autoironia e evocando um poema do escritor irlandês Oscar Wilde, “Paint a vulgar picture” critica o sistema brutal da indústria fonográfica, que cria teias estratégicas para sugar o máximo de cada artista. “Death of a disco dancer” relembra o ódio de Morrissey pela música eletrônica e o faz afirmar: “A morte de um ‘baladeiro’/Bem, isso sempre acontece por aqui/ E se você acha que a Paz/É um objetivo comum/Isso mostra o quão pequeno é”. Além disso, essa é a única faixa que conta com Morrissey tocando um instrumento: um piano, vagaroso e bem diferente do som das “discos”.
Síndrome do fim
Da mesma forma que “Strangeways, here we come” marca uma guinada no estilo do grupo e também o fim do The Smiths, outros artistas também criaram discos derradeiros, mas com qualidade inegável. Esse é o caso do “Let it be” de 1970, dos Beatles e que abandonou a roupagem psicodélica que os meninos de Liverpool tinham adotado.
“Dig out your soul”, do Oasis, lançado em 2008, coloca o grupo em um novo patamar, marcado com um disco repleto de experimentalismo e psicodelia. O R.E.M., com o seu “Collapse into now”, do ano passado, se refez, deixou a política de lado, que marcou o “Accelerate”, de 2008, e usou da poesia e arranjos rápidos para criar uma obra monumental.
O triste “A Tempestade”, lançado pela Legião Urbana, marcava não apenas o fim da banda, mas também a morte de Renato Russo, um dos maiores compositores brasileiros. O clima sombrio das letras é sobreposto pelo tom pop de músicas como “Soul Parsifal”, “A Via Láctea” e “L’Avventura”.
Assim como o “Strangeways, here we come”, esses discos são marcantes e ajudaram a compor o espólio dos artistas e consolidar um estilo.