Música

Clássico do Echo & The Bunnymen completa 30 anos

A voz gutural e a poesia épica e frenética de Ian McCulloch ganhavam forma definitiva em maio de 1984, quando o Echo & The Bunnymen lançava aquela seria a sua obra-prima: o disco Ocean rain. Mas para os fãs da banda de Liverpool – sim, os Beatles não foram os únicos bem sucedidos da cidade – a festividade é dupla: o dia 04 de maio marca os 30 anos desta importante peça do rock britânico, enquanto o McCulloch completou 55 anos na última segunda-feira (05).

O disco chegou em um momento crucial para a história da música, justamente, quando as bandas abraçavam os equipamentos high-tech para criar texturas e desenvolver temas que mergulhavam no universo eletrônico. Àquela altura, o New Order já dominava as discotecas com a revolucionária “Blue Monday”, lançada no ano anterior.

Na contramão desse cenário, McCulloch, Will Sergeant (guitarras), Les Pattinson (baixo) e Pete de Freitas (bateria), morto em um acidente de motocicleta em 1989, usariam uma orquestra com 35 instrumentos para criar o relevo musical que ajudaria a criar o tom certo para arrebatar uma juventude sedenta por alguém que falasse o que ela estava disposta a ouvir. Apesar de Ocean rain já ser o quarto álbum do grupo, foi somente com o single de “The Killing moon”, lançado em janeiro, que o quarteto despontaria além-mar e se transformaria em uma das bandas mais importantes de todos os tempos.

O espírito da coisa

Se deslocando entre o pós-punk e o neopsicodelia, o Echo & The Bunnymen criava, juntamente com o disco de estreia do The Smiths e bandas como Orange Juice e Aztec Camera, o embrião do que seria o indie. A partir daquele ano, em que o grupo ganhava uma nova identidade e percepção, tudo o que o quarteto tocasse se transformaria em ouro. Aquele era, sem sombra de dúvidas, um requém para o sonho adolescente de tocar com os amigos e se transformar em um rock star. E seria a fonte de inspiração de muita gente.

“Nós tocávamos ‘The Killing Moon’ na Lorena Foi Embora, banda que tive antes do Terminal Guadalupe. Echo & The Bunnymen fez parte da trilha sonora da minha adolescência, especialmente o álbum Ocean Rain. É uma obra de texturas, melodias e letras belíssimas, peça fundamental em qualquer discoteca básica”, resume o jornalista e músico Dary Junior.

Enquanto McCulloch promovia seu quarto álbum, o também inglês – mas de Manchester – Morrisesy divulgava o primeiro LP do The Smiths. Os dois líderes da cena local se encontraram em 1984, a pedido da revista “N°1”, para conversar sobre o presente e o futuro da música. Para o vocalista do Echo, a indústria fonográfica seria dominada pelas bandas independentes, que correm pelas bordas.

“O espirito está sempre com os menores e mais obscuros país, aqueles que não ganham medalhas ou ficam só com o bronze. É sempre o Genesis e o U2 que levam o ouro porque eles treinam bem que nem os americanos e os russos. Mas eles têm menos espírito, inspiração e sentimento”, disse  McCulloch.

O reino e o poder

A afirmação faz sentido ao se pensar que a música, naquele momento, havia se transformado em um negócio, literalmente. Cada vez mais o maior desejo de um grupo de adolescentes era formar um banda e lotar estádios, tal qual fazia o U2 – considerado o suprassumo do rock europeu.

Em contrapartida estavam as bandas independentes, que trabalhavam para gravadoras menores, mas com maior poder e liberdade criativa. O ápice desse movimento de ir contra a correnteza encontrou seu ápice naquele ano, principalmente, com Ocean rain. Com uma produção mais elaborada, usando desde xilofone a glockenspiel, aquele LP ditaria as tendências do que as bandas de rock alternativo deveriam fazer.

A prova viva do poder está nos dois primeiros discos da Legião Urbana. O homônimo dos brasilenses possui, justamente, glockenspiel em “Será” por influência da sonoridade do Echo, algo que beirava a van,guarda na época. Já no LP Dois, 1986, o produtor Mayrton Bahia recebeu a seguinte recomendação de Renato Russo: “quero o bumbo igual ao do Echo & The Bunnymen”. E assim foi feito.

Mas para alguns fãs, o Ocean rain só faz sentido ao se completar a tetralogia iniciada com Crocodiles (1980), Heaven up here (1981) e Porcupine (1983). O artista plástico Junior Vaz, que acompanha a banda desde a década de 1980, enxerga os quatro álbuns como um conjunto. “Para mim, esse é disco do Echo com eles no barquinho na capa. Na época diziam q era o melhor disco deles, mas para mim os quatro primeiros eram um tipo de ‘pacote q você comprava separadamente’ – por isso, tinha q ter todos os quatro – só que esse trazia “The Killing moon”, “Silver” e “Seven seas”, comentou Vaz.

Canto fúnebre

Com tamanha devoção, era de se esperar que disco conseguisse uma boa posição nas paradas britânicas, além de resenhas favoráveis. Na Inglaterra, o quarteto de Liverpool emplacou o quarto lugar – já nos Estados Unidos, a banda teve que se conformar com uma pífia 87ª posição. Talvez, o resultado desastroso na terra do R.E.M. tenha sido a reiew da revista “Rolling Stone”, que caracterizou o álbum como “um canto fúnebre monocromático com um manto imaginário banal do esqueleto de algo que deveria ser uma canção”.

Contra os argumentos da publicação estadunidense ficou a celebração de um álbum que conseguiu combinar, provavelmente em seu melhor termo, a poesia de McCulloch, fortemente inspirada por Leonard Cohen e Lou Reed, com as guitarras modernas e melodiosas de Sergeant, seu principal parceiro dentro do Echo & The Bunnymen – e depos com formou o Electrafixion, em 1995, e que teve vida curta e culminou na volta do grupo em 1997.

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