Nesta segunda-feira (10), Clarice Lispector (1920 – 1977) completaria 92 anos. Para celebrar a data, a Editora Rocco e o Instituto Moreira Sales criaram uma programação de eventos – que pipoca em todo o Brasil – chamada “Hora de Clarice”. Dona de uma prosa psicológica, Clarice sempre carregou a pecha de ser hermética e difícil.
Atualmente, a obra da ucraniana de Tchetchelnik, ganhou grande difusão, seja pelas frases muitas vezes atribuídas a ela em redes sociais ou a recorrência de seus livros em lista de vestibulares ou pela simples paixão por “A Hora da estrela”, “Cidade Sitiada” ou “Perto do coração selvagem”.
Água de viver
Em sua última entrevista, realizada poucos meses antes de morrer, mas veiculada na TV Cultura somente depois que Clarice já tinha sucumbido a um câncer que ela mesma desconhecia, ela afirmou que escreveria para se sentir viva e que o processo da escrita era como beber água – uma necessidade sutil, porém vital.
Essa declaração pode se transformar em um ponto chave para compreender sua obra e mergulhar em um mar repleto de subjetividade, como em contos como “O Ovo e a galinha” – que permanece um mistério a ser desvendados, a despeito das “dicas” da escritora.
Flutuando entre a literatura, o jornalismo e a tradução, Clarice sempre se mostrou avessa a todo e qualquer estrelismo ou fanatismo. O fato de não permitir que suas entrevistas fossem gravadas denotava o caráter de instantaneidade de suas palavras e que deveriam ser captadas feito um flash pelo entrevistador e, por conseguinte, pelo leitor.
Memorialista
Clarice usava de suas experiências pessoais para criar sua arte. Basta olhar com certo apuro para “Felicidade clandestina” e “Come, meu filho”. Muitos alegam que ela era uma pessoa distante, até alheia, mas, na verdade, Clarice era uma exímia observadora e que fisgava com os olhos o seu dia a dia e os melindres da sociedade.