A Lapa carioca vai tremer hoje à noite. Uma festa com roqueiros e músicos afins, que tiveram suas carreiras iniciadas ali, entre 1982 e 1996, reabre o Circo Voador, fechado há quase oito anos. As obras duraram três anos, com investimento de R$ 4,5 milhões da Prefeitura do Rio. A administração está a cargo de Maria Juçá, a produtora dos shows de rock que consagraram as carreiras de Lobão, Barão Vermelho, Marcelo D2 e Marcelo Yuka. Eles eram parte da atração nos 15 anos em que a lona ficou estendida numa praça, sob os arcos da Lapa, no centro do Rio.
Quase todos estarão na reinauguração e voltam no sábado para uma homenagem ao cantor e compositor Cazuza, outro personagem importante dessa história. No domingo, está de volta a Domingueira Voadora, a partir das 21 horas, com a Orquestra Tabajara, de Severino Araújo. As festas devem durar a noite toda, mas os vizinhos não serão incomodados, pois a antiga lona foi substituída por uma estrutura metálica confortável para os artistas e o público (sua capacidade é de 1.400 pessoas) e tratamento acústico de primeira.
“O Circo mantém os objetivos de sua criação: diversão a preço baixo e espaço para novos talentos”, diz Maria Juçá, que comandava aquela noite em 1996, quando o arquiteto Luiz Paulo Conde foi comemorar sua vitória na eleição municipal e foi vaiado pelo público punk do grupo Ratos de Porão. Logo em seguida, o Circo foi fechado por irregularidades. “Reabrir foi minha missão nesses últimos oito anos, que não foram os melhores da minha vida”, confessa Juçá. “E receber a chave da prefeitura é ter meu trabalho reconhecido.”
Democracia
Em seu estilo paz e amor, Roberto Frejat, líder do Barão Vermelho, comemora. “É um grande prazer ter de volta o espaço musical mais democrático da cidade. Espero que o espírito permaneça o mesmo”, foi o recado que ele mandou por e-mail à reportagem. Lobão elogia, mas solta os cachorros. “A volta do Circo, sem nostalgia, é fundamental para a cultura brasileira, que está no CTI. Os novos têm dificuldade de mostrar-se e todo mundo só pensa em reeditar coisa antiga ou prestar tributo a neguinho morto”, teoriza. “Tudo que aconteceu desde 1980 passou pelo Circo, que sempre teve espaço para tudo, de Severino Araújo ao hip hop. E é assim que deve continuar.”
Em agosto, começam a funcionar, durante o dia, as oficinas e projetos sociais do Circo Voador e os shows do meio da semana. Samba às segundas (produzido por Mário Lago Filho), rock na terça, música latina na quarta e lançamentos de discos e livros na quinta. Sextas e sábados serão reservados aos nomes consagrados. Celso Blues Boy e Yamandú Costa serão os primeiros. Os ingressos vão custar entre R$ 5,00 e R$ 24,00. “São 150 pessoas trabalhando aqui, mantendo o espírito que criou o Circo, mas sem saudosismo”, declara Juçá.