Circo ganhou mais destaque em 2012

O ano que termina foi generoso com o circo. Os recursos destinados à mais pobre das artes cênicas permanecem longe do ideal. Mas a área amealhou uma série de conquistas em 2012.

Em São Paulo, o Centro da Memória do Circo ganhou uma exposição que revê toda a trajetória dos picadeiros no Brasil. O tradicional circo Tihany, criado nos anos 1950 e distante da cidade havia 13 anos, voltou a armar sua lona por aqui.

Já no Rio, a Escola Nacional do Circo teve sua antiga sede reformada e retornou à Praça da Bandeira. Também os editais de financiamento ficaram mais generosos. O Proac, programa de incentivo do governo do Estado, injetou recursos na produção e circulação de espetáculos circenses.

Já na esfera federal, o Prêmio Carequinha investiu R$ 6 milhões no setor: maior montante desde que foi instituído em 2004, à época com verba de R$ 300 mil. Mais prosaicos, alguns entraves enfrentados pelos artistas da área também foram finalmente solucionados em 2012.

Por não possuir endereço fixo, o circense não é incluído no recenseamento nacional e tem dificuldades para conseguir certos documentos. Apenas neste ano, por exemplo, representantes da categoria começaram a receber o seu cadastro no SUS – Sistema Único de Saúde.

“Tinha direito ao atendimento de emergência. Mas não a serviços ambulatoriais, como pré-natal, por exemplo”, esclarece Marcos Teixeira, coordenador da área de circo do Ministério da Cultura.

Para 2013, as expectativas permanecem animadoras. A Funarte anuncia como meta um mapeamento inédito de todos os circos do território nacional e de seus profissionais.

Medida essencial, assegura Teixeira, para que novas políticas sejam implementadas. “Não será importante apenas para que a gente conheça os números, mas para que se decida onde investir e como qualificar os circos que existem.”

Até hoje o País não tem nenhuma estimativa de quantos e quais são os seus artistas circenses. “É essencial sabermos quem somos. Faz tempo que estamos esperando isso”, diz Verônica Tamaoki, coordenadora do Centro de Memória do Circo de São Paulo e curadora da exposição Hoje Tem Espetáculo.

O intuito é fazer o estudo em parceria com uma universidade. Centros especializados em metodologia de pesquisa, como o IBGE e a Fundação Getúlio Vargas, já estão participando.

“Ainda estamos desenvolvendo um método, que dê conta do caráter itinerante do circo. O pesquisador não pode ir atrás dos circos, porque corre o risco de sempre perdê-los de vista. É preciso um outro planejamento, que envolva várias pessoas em vários Estados”, diz Teixeira.

Políticas públicas voltadas para o circo são uma realidade muito recente. Só surgiram com regularidade na última década. “Significaram um grande avanço. Mas é necessário avançar mais”, ressalva Verônica.

Ela frisa que, apesar dos esforços crescentes o abismo entre o circo e as artes irmãs, como o teatro, ainda persiste. “É muito injusto se destinar mais dinheiro para a montagem de uma peça de teatro do que para um circo itinerante. A diferença ainda é muito grande. Não faz nenhum sentido, por exemplo, que uma peça receba R$ 90 mil e um circo inteiro, R$ 60 mil”, defende.

Além de retornar à antiga sede, a Escola Nacional do Circo também se preocupa em preparar profissionais para a nova realidade vivenciada nos picadeiros. Os circos mudaram. É preciso que quem trabalhe neles esteja em sintonia com isso.

Uma nova grade de cursos está sendo elaborada para o próximo ano, relata o diretor da escola, Zezo Oliveira. “Não podemos dar conta apenas das habilidades artísticas, mas também de questões técnicas. Estamos pensando em cursos de gestão circense, iluminação e direção.”

Única instituição do gênero mantida pelo Ministério da Cultura, o centro de formação, hoje atende a cerca de 110 alunos, que têm aulas de acrobacias e malabarismos.

Na capital paulista, já está pronto e licitado o projeto que cria uma escola profissionalizante municipal. A intenção é construí-la no Largo do Paissandu, local histórico, onde se instalaram as primeiras lonas circenses na cidade, e próxima ao atual Centro da Memória do Circo.

A área a ser destinada ao novo prédio, porém, foi ocupada por militantes do movimento sem-teto e é alvo de disputa na Justiça. “O juiz que deu a sentença disse que não iria nos devolver a área porque ‘palhaçada se faz em qualquer lugar’. Isso demonstra o imenso preconceito que ainda existe em relação ao circo”, acredita Verônica.

Um sentimento, diz ela, que não deriva apenas da rejeição, mas também do fascínio que essa arte exerce há décadas. “Durante muito tempo, em diversos lugares, o circo simbolizava o inesperado. A única possibilidade de fugir de uma vida medíocre. Por isso, entender os dois lados dessa moeda chamada circo é quase entender a psicologia do brasileiro: é algo que gera temor repulsa e ao mesmo tempo fascina.” Resta esperar que, em 2013, o encantamento dessa arte supere o medo.

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