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Cinema de invenção é prática de liberdade

A Moça do Calendário parte de um roteiro de Rogério Sganzerla (1946-2004). Quem o filma é Helena Ignez, que foi casada com Rogério e com ele teve duas filhas, Djin e Sinai. O roteiro foi modificado, mas mostra as linhas de inspiração de Rogério, um dos expoentes de um cinema, que, à falta de denominação melhor, ficou conhecido como “marginal”. Aliás, essa denominação existe e deve-se ao crítico Jairo Ferreira, que o chamava de “cinema de invenção”.

Invenção é o que temos a partir do primeiro fotograma de A Moça do Calendário. Helena, atriz notável do Cinema Novo e do, vá lá, cinema de invenção (O Padre e a Moça, O Bandido da Luz Vermelha, etc.), cria a partir do roteiro e constrói sua obra com linguagem visual própria.

O protagonista é menos a personagem a que alude o título e mais o dublê de mecânico e dançarino Inácio (André Guerreiro Lopes). Alternando trabalho durante o dia e as pistas de baile à noite, Inácio sonha com a doce figura de mulher (Djin Sganzerla) estampada na parede de sua oficina. Ou seja, a garota da folhinha é uma projeção da fantasia romântica de Inácio.

Lindamente filmado, A Moça do Calendário traz sequências memoráveis de São Paulo que, magicamente, se torna uma cidade bela sob o olhar de Helena. Há um passeio de bicicleta de antologia pelas ruas da cidade – que, em certo sentido, evoca o “neorrealista” O Grande Momento, de Roberto Santos. Praças e ruas tornam-se personagens desse filme lúdico e leve, e a Praça da República é vista sob um ângulo luminoso.

Mas o que há, talvez, de mais importância a ser retido desse exercício cinematográfico, é o grau de liberdade que sua diretora se permite. Helena é um espírito livre e esse é seu estilo. Faz um cinema que não apenas evoca a liberdade, mas é libertário em sua própria linguagem. Faz-nos sonhar, pensar e sentir. Esse é o pão do espírito de que tanto necessitamos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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