“A Noite do Chupacabras”, que conta a história do aparecimento de uma criatura que mata os animais de duas famílias, é uma das atrações do 3º Cinema de Bordas, que começa hoje e segue até domingo, no Itaú Cultural, em São Paulo. A mostra reúne 19 filmes realizados por anônimos que, com poucos recursos, resolveram realizá-los na base do lema “uma ideia na cabeça e muito improviso à mão”.
Filmada no meio da mata, na comunidade do Perocão, na cidade de Guarapari (ES), a obra independente terá um trecho de dez minutos exibido no festival. O diretor Rodrigo Aragão, 34 anos, não tem verba, mas recorre, há dez anos, ao amigo Hermann Pidner, empresário que banca suas produções. Para viabilizar “A Noite do Chupacabras”, Pidner liberou generosos R$ 160 mil. “E o ator Walderrama, protagonista, foi escalado, entre outros motivos, por ser meu amigo há 20 anos e topar, muitas vezes, trabalhar na base da camaradagem”, conta Aragão.
Mas quem não tem verba, nem amigos abonados, também dá as caras no festival. O jornalista gaúcho Felipe Guerra, por exemplo, que participa com “Extrema Unção”, de 19 minutos, gastou singelos R$ 40 na produção. A história simples, de uma idosa que fica presa dentro de uma casa porque não recebeu a extrema unção ao morrer, foi encenada na casa da avó do diretor. Além do cenário gratuito, a própria matriarca da família virou a atriz principal.
Bernadette Lyra, com pós-doutorado em cinema pela Universidade de Sorbonne, em Paris, e curadora da iniciativa, diz que a graça dos filmes exibidos tem relação direta com seu grau de tosquice: “A história do cinema brasileiro não se restringe ao que a academia e o mercado apresentam”, diz Bernadette. Ela explica que, embora não haja um movimento consolidado nessa linguagem, há uma produção feita nas bordas que não pode ser ignorada. “A forma criativa com que pessoas comuns driblam a falta de recursos técnicos para realizar seus filmes traz um novo jeito de explorar a narrativa cinematográfica”, aposta. As informações são do Jornal da Tarde.
Mostra Cinema de Bordas – De hoje a domingo. Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149). Tel. (011) 2168-1777. Classificação: 14 anos, exceto para o filme “O Doce Avanço da Faca” (18 anos). Grátis (ingressos distribuídos meia hora antes).