Boa parte do acervo cinematográfico brasileiro do início do século 20 está em poder da Cinédia, instalada em um casarão histórico no centro do Rio de Janeiro, no bairro de Santa Teresa.
A empresa, uma das mais antigas do ramo, completa 80 anos em 2010. Com muito custo, ela conseguiu funcionar ininterruptamente durante todo esse tempo graças aos esforços de Alice Gonzaga, de 75 anos, filha do jornalista Adhemar Gonzaga (morto em 1978), fundador da empresa. Neste período, a Cinédia mudou o foco de produtora cinematográfica para se tornar uma restauradora e mantenedora da memória do cinema nacional.
Em nome desta memória, a empresa se dedica atualmente a iniciar o restauro de sete filmes clássicos. Cinco deles produzidos na fase final da carreira do cineasta Moacyr Fenelon (morto em 1953). São eles: “Obrigado Doutor” (1948), “Estou Aí?” (1949), “Poeira de Estrelas” (1948), “Dominó Negro” (1949) e “A Inconveniência de Ser Esposa” (1950).
Os outros dois filmes em restauro são “Bonequinha de Seda” (1936) e “Berlim na Batucada” (1944), este último com produção e roteiro de Adhemar Gonzaga e participação do Trio de Ouro: Herivelto Martins, Dalva de Oliveira e Nilo Coelho. No futuro, essas obras serão exibidas em mostras e festivais e vendidas em DVD.
Um dos objetivos de Alice é também transformar o local em centro cultural, com cursos, palestras e oficinas de cinema. “De alguns desses filmes restaram apenas poucas cópias”, diz Hernani Heffnet, coordenador dos projetos da Cinédia e responsável pelos restauros. É o caso, por exemplo, do filme “Estou Aí?”. Dele não sobrou nenhuma cópia em 35mm e apenas quatro, todas incompletas, em 16mm.
Alice Gonzaga praticamente nasceu dentro da empresa e está à frente dela desde a década de 70. “Apesar de todos os percalços que o cinema nacional já enfrentou, nós continuamos inteiros”, diz ela. “Mudamos os objetivos da empresa, mas sempre com os olhos no cinema.”