Lucrecia Martel olha para o céu, para o mar e repete o chavão – diz que o Rio é uma cidade maravilhosa. A diretora argentina de O Pântano participa do Festival do Rio 2004 com seu novo filme, Santa Menina, que integra a Première Latina, uma mostra competitiva. Lucrecia conversa com o repórter no bar da piscina do Hotel Méridien, que é o centro do festival. Convidados, seminários, sala de imprensa – tudo está concentrado no Méridien. Depois de Lucrecia, é a vez de Juan Pablo Rebella sentar-se à mesma mesa. É o diretor de Whisky, o filme uruguaio que ganhou três prêmios no recente Festival de Gramado e também participa da competição dos latinos no Rio. Lucrecia tem 41 anos, mas aparenta menos. Rebella tem 29. Representam a nova geração do cinema latino-americano.
Francisco Lombardi, de 55 anos, também está no Rio mostrando Olhos que não Vêem. É o diretor mais famoso do Peru, o que talvez não dê a medida de sua importância, pois se trata de um país sem muita tradição cinematográfica. Lombardi representa uma geração anterior do cinema latino. Está na ativa desde os anos 1970 e fez filmes como Sem Compaixão, No se lo Digas a Nadie e Pantaleão e as Visitadoras. Os dois últimos foram obras de encomenda que Lombardi aceitou fazer porque não implicavam em nenhuma mudança de seu estilo de cinema e visão de mundo. Um filme sobre homossexualismo e a adaptação do romance de Mario Vargas Llosa. Foram dois grandes êxitos de público.
Fazer filmes no Peru é difícil, mesmo que os filmes dele sejam baratos – o mais caro custou US$ 400 mil. A parceria com a Espanha o tem ajudado a tornar seus projetos viáveis. E há o futebol. Ligado ao dono do Cristal, Lombardi acompanhou a equipe quando jogou com o Cruzeiro, no Brasil, pela Copa Libertadores. Ele ama o futebol como o cinema, mas diz que não facilita sua integração. “Não escolhi o time mais popular do Peru”, confessa, rindo. Ex-crítico, confessa que aprecia várias correntes do cinema latino-americano e mundial. Acha muito interessante La Martel, como se refere à diretora de Santa Menina. Lamenta que terá pouco tempo de ver filmes no Rio. “Vim porque havia me comprometido, mas dentro de 20 dias estréio como diretor de teatro e tenho de voltar.”